São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
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Indústria puxa freio neste semestre

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A frustração da indústria com o enfraquecimento das vendas e, consequentemente, da produção -sobretudo a partir de maio- leva os empresários a rever o ritmo de atividade para este semestre.
Na média, 17 setores da indústria devem reduzir de 2% a 3% a produção neste semestre em comparação a igual período do ano passado, segundo estudo feito pela AMR Editora, que edita o boletim "Indicadores Antecedentes".
No início do ano, a indústria apostava que poderia crescer em torno de 5% em 1997 sobre 1996 -esse foi o resultado do primeiro semestre do ano sobre igual período de 1996, informa a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Com a diminuição das vendas e, portanto, no ritmo das fábricas, a CNI acredita agora que a indústria termina 1997 com crescimento menor do que 3%, em média, na comparação com o ano passado.
"A maior parte dos setores industriais está passando neste momento por uma fase de desaquecimento", diz Claudio Contador, sócio-diretor da AMR.
Mônica Hage, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, diz que não poderia ser diferente.
O comércio de bens de consumo duráveis registrou, no primeiro semestre deste ano, queda de 3,49% no faturamento na comparação com igual período do ano passado. A previsão inicial era de redução de 2,5%, no máximo. "A inadimplência é a grande culpada", diz Mônica.
Carro-chefe
Flávio Castelo Branco, subchefe do departamento econômico da CNI, diz que o carro-chefe da indústria é o setor de bens de consumo -eletroeletrônicos, vestuário, alimentos etc. Como a venda desses produtos perdeu fôlego, avalia, a indústria está menos dinâmica.
A grande surpresa, afirma Contador, foi verificada na indústria de alimentos. "Esse setor acreditou numa expansão contínua com o Plano Real, o que não está acontecendo."
João Rozário, vice-presidente da Perdigão, diz que de fato o mercado "está frio." O setor de carnes industrializadas, por exemplo, conta ele, previa crescer entre 5% e 6% neste ano sobre 96. Refeita a estimativa, o percentual de aumento não deve passar de 2%.
Rozário diz que a indústria alimentícia não vê outro motivo que não o grande endividamento do consumidor para explicar uma retração -inesperada para muitas empresas- do setor.
Denis Ribeiro, coordenador do departamento econômico da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), diz que a produção de alimentos ainda está mantida. Mas é fato que o consumo já diminuiu.
Nos últimos 12 meses terminados em junho, a produção de alimentos cresceu 3,9% na comparação com igual período imediatamente anterior, informa a Abia.
O faturamento real da indústria, no entanto, aumentou 1,25% no período. "Isso significa que as fábricas estão tendo de dar muito desconto para efetuar venda."
Para Ribeiro, o aumento das vendas dependerá do crescimento da renda. "O mercado de alimentos não vai crescer mais do que 3,5% a 4% ao ano."
Eletroeletrônico No setor eletroeletrônico -que experimentou taxas surpreendentes de crescimento depois do Plano Real- a idéia é a mesma.
A indústria de eletrodomésticos, por exemplo, que previa produzir e vender neste ano entre 10% e 15% a mais do que no ano passado, reviu a estimativa para crescimento de 3% a 4%, no máximo.
"Existe até a possibilidade de queda sobre 1996", diz Antonio Carlos Romanoski, diretor-presidente da Electrolux. "Está havendo uma acomodação do consumo."
A Electrolux decidiu dar férias coletivas, em julho, para 3.000 funcionários que trabalham na produção de geladeiras e freezers para equilibrar a oferta à demanda. "O fato é que a indústria está se ajustando", diz Romanoski.

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