São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
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Apesar do marketing da Nasa, sonda Pathfinder ainda deve ciência

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os resultados científicos obtidos pela sonda americana Mars Pathfinder, a "desbravadora" hoje transmitindo da superfície marciana, têm de ser entendidos em relação ao que fizeram duas outras pioneiras dos anos 70 -as duas Vikings, também americanas.
E a conclusão é clara: ela está adicionando conhecimento em nível bem menos impressionante daquilo que a maciça divulgação pelos meios de comunicação parece demonstrar.
A máquina de relações públicas da Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço), a agência espacial americana, fez da Pathfinder uma estrela imediata, e está fazendo que se esqueça uma velha noção da ciência -de que é o primeiro a descobrir algo quem merece a glória. Ninguém se lembra do nome de quem reinventou o telefone, por exemplo.
As mesmas imagens que a Pathfinder está mostrando já foram vistas na década de 70. Descobrir que a superfície de Marte lembrava o deserto americano no Estado de Arizona foi obra das Vikings.
As Vikings eram sondas Rolls-Royce; a Pathfinder é uma fusquinha. Basta ver os números.
O "orbitador" da Viking tinha, no lançamento, 2.325 kg; o "pousador" tinha 1.194 kg. A Pathfinder saiu da Terra com 890 kg no lançamento, eram 570 kg ao entrar em marte, e 360 kg no solo.
Mesmo levando-se em conta a tecnologia de miniaturização de componentes eletrônicos mais arcaica dos anos 70, as Vikings produziram bem mais dados.
Em defesa da Pathfinder deve-se dizer que sua concepção é a de uma sonda "barata", relativamente, o que a tornou basicamente um minigeólogo, pelos instrumentos a bordo, com alguma capacidade em meteorologia.
Já as Viking tinham uma "equipe" de cientistas bem maior a bordo. Havia experimentos e instrumentos para biologia (mas não se chegou a comprovar, nem negar, a possibilidade de vida em Marte), para sismologia (estudo de "terremotos" -lá seriam "martemotos"), meteorologia, geologia etc.
A "desbravadora", porém, fará jus ao nome por auxiliar a Nasa a obter dados para futura missão tripulada a Marte. Para expor seres humanos ao risco de um outro planeta, convém coletar o máximo de informações. E isso a Pathfinder está fazendo, como ponta-de-lança das próximas sondas.

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