São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
Próximo Texto | Índice

FHC E A POLÍTICA MIÚDA

Em artigo escrito por ocasião da posse de Fernando Henrique Cardoso, o cientista político Leôncio Martins Rodrigues constatava a fragmentação da representação partidária na Câmara e, em seguida, delineava um roteiro preocupante para um presidente cuja coligação não detinha a maioria parlamentar. PSDB, PFL e PTB tinham então pouco mais de 35% dos deputados.
A necessidade de apoio no Legislativo, dizia Leôncio, levaria à ampliação do leque de partidos no ministério e haveria uma tendência ao aumento da rotatividade ministerial, com subsequente declínio na eficiência da administração. Essa perda seria devida à própria mudança nos quadros governamentais, à menor qualidade dos nomes escolhidos por necessidade política e ao fato de que a busca de consenso favorece o imobilismo. Como se viu, o roteiro foi em parte cumprido.
Numa legislatura em que 120 deputados já trocaram de legenda, a idéia de partido ou de unidade partidária precisa ser encarada com as devidas reservas. Clientelismo, fisiologismo e corporativismo fazem como que parte da natureza da política brasileira. E o governo de FHC tem oferecido nesse sentido um espetáculo de negócios nada animadores, como o que acaba de concluir com o notório Newton Cardoso (PMDB-MG) ou como o que pretendeu fechar com Amazonino Mendes (PFL-AM), em torno da Suframa.
De qualquer forma, mesmo que não esteja especialmente preocupado com o aperfeiçoamento dos hábitos políticos e siga o mais estreito pragmatismo, o presidente parece subestimar o poder que o sucesso do Real e suas qualidades pessoais lhe conferem. A economia, apesar de tudo, caminha nas linhas definidas pelo núcleo duro do tucanato tecnocrático. É certo que muito do seu programa de governo ainda depende de reformas e, portanto, da costura de alianças.
Os fatos políticos mais recentes dão mostra inequívoca de que a atitude essencialmente conciliatória do presidente e as desgastantes concessões à política miúda acabam por comprometer sua imagem e até a consistência de seu projeto para o país.

Próximo Texto: ABRIR COM MENOS RISCOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.