São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 1997
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Histórias do mal

DA REPORTAGEM LOCAL

Entre as histórias de decepções na Internet, uma delas parece coisa de cinema. E sem final feliz.
Para o estudante de química Mario Vandello, 20, que costuma usar o nickname Nero, a decepção foi enorme, embora a garota, Cherry, fosse bonita e tivesse vários interesses em comum com ele.
Ele mora em Campinas (SP), onde estuda, mas passa férias em Belo Horizonte, com a família. Ao conhecer uma garota da capital mineira numa sala de bate-papo, sentiu que poderia ser alguém legal para encontrar nas férias.
"Conversamos durante três semanas, mas já no segundo dia ela me ganhou, quando disse ser torcedora do Atlético", conta Mario, acrescentando que até então só conhecia uma menina muito fã de futebol: sua irmã, Mylena.
Empolgado, Mario ligou para Mylena e comentou com ela o romance virtual, que já durava 20 dias. Depois disso, Nero e Cherry só trocaram e-mails por mais dois dias. A história terminou com a revelação: Cherry era o nickname de Mylena.
"Sabe o que é você fantasiar tanto tempo um romance com alguém e descobrir que ela é sua irmã? Eu me senti um personagem de novela mexicana", diz Mario, que ainda não se motivou a buscar novas amizades na rede. "Estou dando um tempo nas salas de sexo, só para soltar umas baixarias."
O caso de Mario é incomum. Na maioria das vezes, a grande decepção vem ao descobrir que a pessoa não é nada daquilo que diz na Internet. "Eu já encontrei um menino que me decepcionou muito. E ainda por cima tínhamos combinado de ir ao cinema. Ainda bem que era uma comédia. Já pensou se fosse um filme romântico?" conta Marina Perroud, 17.
A secretária Nicole Dutra, 19, que usa o computador do trabalho para bate-papos na hora do almoço, revela que já fugiu na hora em que viu o rapaz que iria encontrar. "Não que ele fosse feio, mas era tão relaxado, largadão, de um jeito impossível de se imaginar depois de três meses de contatos", conta.
Ela admite que chegou a ter dó do menino depois de furar o encontro, mas teve apoio das amigas. "Uma delas já foi atacada por um cara que conheceu no bate-papo. Acho que a gente tem o direito de ter medo e tomar precauções."
Rogério Santide, 16, já viveu o outro lado dessa história. "Dos quatro encontros que eu marquei pela Internet, em duas vezes não apareceu ninguém." Segundo ele, em uma das vezes a pessoa esperada era um amigo, "então ele não fugiu por me achar feio, né? A outra pessoa que furou comigo era uma garota, aí eu não sei, pode ser que a minha cara não ajude".
Daniel Mendes, 18, ficou esperando uma garota que não apareceu. "Depois, um amigo me disse que a tal garota era, na verdade, um estudante da Poli."
"Levar um W.O." é como os veteranos chamam essa experiência. "Faz parte, acontece com todos", diz Breno Yamato, 19, que já levou W.O. três vezes em 20 encontros.

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