São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997
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Esquema ajudou parentes de Maluf, afirma promotoria

Envolvidos são Sylvia Maluf, seu irmão e atual primeira-dama

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público paulista acredita em um esquema de triangulação entre empresas para favorecer parentes do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf. O negócio envolve transações de venda de frangos para a Prefeitura de São Paulo no ano passado.
A nova suspeita vem se somar a outros questionamentos sobre práticas da administração Paulo Maluf (1993-96) e de seu sucessor, Celso Pitta (PPB).
A promotoria acredita que houve crime de improbidade administrativa, além de fraude na licitação provocada por envolvidos no suposto esquema.
"Aparentemente havia uma triangulação para favorecer a empresa da mulher do ex-prefeito, Sylvia Maluf, na venda de 823 toneladas de frango no ano passado à prefeitura", diz o promotor Alexandre de Moraes, da Promotoria de Justiça e Cidadania da Capital.
Obelisco e A D'Oro
A empresa de Sylvia é a Obelisco, que forneceria frangos para abate. Além de Sylvia, é sócia da empresa sua filha Lígia.
A Folha visitou ontem a Obelisco no km 9,5 da estrada que liga Itatiba a Louveira (75 km a noroeste de São Paulo). A empresa está fechada e tem instalações novas, aparentemente nunca usadas.
O gerente administrativo da Obelisco, José Antônio Orlandelli Lopes, diz que a firma é regular.
Entre maio e agosto do ano passado, seu faturamento praticamente dobrou por fornecer frangos para a A D'Oro -que no período vendia para a prefeitura.
A A D'Oro pertence a Fuad Luftalla, irmão de Sylvia Maluf.
"Mas cunhado não é parente. Ele podia vender o frango processado para a prefeitura, que na verdade era da Sylvia", afirma o promotor, que instaurou inquérito sobre o caso em 16 de abril, depois que a "Folha da Tarde" revelou o caso.
O problema reside exatamente nas condições da venda. Para o Ministério Público, houve irregularidade no contrato de fornecimento do produto e suspeita de favorecimento por uma terceira empresa, a Frigobrás (do grupo Sadia).
Frigobrás
Em fevereiro de 1996, a Frigobrás ganhou licitação para fornecer frango para creches e escolas municipais por R$ 1,66 o quilo. Em segundo lugar ficou a A D'Oro (que ofereceu R$ 1,73/kg).
Três meses depois, a Frigobrás pediu aumento para R$ 1,96 por quilo. A prefeitura aceitou pagar R$ 1,75, mas a empresa desistiu.
Alegando ter direito por edital, Maluf colocou então a A D'Oro para fornecer o frango por ser a segunda colocada -só que não pelos R$ 1,73 o quilo que propunha, mas por R$ 1,75. A A D'Oro faturou R$ 1.426.438,00 com o serviço.
"Isso só poderia ocorrer se a Frigobrás tivesse desistido na hora de assumir o negócio. Como foi três meses depois, era obrigatória uma segunda licitação", diz Moraes.
Um advogado da Frigobrás, Marcelo Pontes Oliveira, pediu ontem sete dias úteis para apresentar notas fiscais ligadas ao caso.
Para surpresa do Ministério Público, a Frigobrás ganhou a licitação deste ano para o fornecimento de frango -com a A D'Oro novamente em segundo lugar.
"Desta vez ofereceram R$ 1,37 por quilo, alegando um excesso de estoque devido a um carregamento que ia para a Rússia e não foi. Acho estranho", afirmou Moraes.
O Ministério Público quer saber se as condições excepcionais de preço não seriam encerradas com o fim do estoque da Frigobrás, o que levaria a novo pedido de aumento de preço e consequente desistência em favor da A D'Oro.
AIM
Uma quarta empresa está sendo investigada. É a AIM Participações Ltda.. Ela foi fundada por pessoas ligadas ao núcleo histórico do malufismo, como o publicitário Nelson Biondi (que a deixou em 1987), e assessorou tanto a Frigobrás quanto a A D'Oro em suas participações nas licitações.
O Ministério Público ainda não sabe quais eram os interesses da empresa, que trabalhava como intermediária nos negócios.
O pedido de aumento por parte da Sadia, no ano passado, foi feito a partir de um fax da AIM.
O Ministério Público pediu explicações, em ofício enviado no dia 7, para a primeira-dama Nicéa Pitta. O promotor quer saber qual sua ligação com a A D'Oro.
Celso Pitta diz que sua mulher fez estágio na A D'Oro, tendo inclusive tentado vender frango à Casa da Moeda em 1993 em companhia de Fuad Luftalla. Pitta foi diretor no órgão entre 1982 e 1985.
Ao Ministério Público, a A D'Oro disse que Nicéa nunca ganhou nada pela empresa. "Mas o prefeito já disse que a renda de casa era auxiliada pelos negócios de Nicéa com frango", afirma Moraes.
A investigação ficará congelada de amanhã até agosto, quando o promotor estará em férias.

LEIA MAIS sobre o caso à pág. 1-6

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