São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997
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Desnutrição infantil cai 69% no Brasil

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O número de crianças desnutridas com até cinco anos de idade, no Brasil, diminuiu 69% entre 1974 e 1996, mas a desigualdade entre as populações de regiões brasileiras aumentou no mesmo período.
A afirmação foi feita ontem pelo professor Augusto Taddei, da Unifesp, durante a conferência "Estudos Populacionais em Nutrição e Saúde", na 49ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
"No ano passado, o número de crianças desnutridas no Nordeste era quatro vezes maior do que no Sudeste. Há 23 anos, era entre duas e três vezes maior", afirmou.
As pesquisas utilizadas pelo levantamento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) contam apenas os sobreviventes e foram realizadas com base em metodologias da Organização das Nações Unidas e do Banco Mundial.
Segundo Taddei, a diferença entre o Sudeste e o Nordeste é ainda maior se levar em conta o número de crianças mortas por desnutrição. De acordo com ele, o problema de nutrição no Brasil não é a falta de alimentos, mas sua distribuição desigual por regiões e por faixas de renda.
A disponibilidade interna de alimentos -igual a estoque mais produção mais importação menos exportação-, no Brasil, corresponde a uma média de calorias diárias por brasileiro 146% maior do que o recomendado pelas Nações Unidas.
Números de um estudo recente do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição indica, porém, que famílias pobres, com renda menor que meio salário mínimo por pessoa, de quatro cidades brasileiras, consomem uma quantidade inferior de nutrientes.
Em Campinas (SP), por exemplo, cada família consome 91% das necessidades diárias de calorias e 85% das necessidades de ferro.
Taddei afirmou que o programa "Leite é Saúde", do governo federal, vem sendo "executado de forma deficiente".
Em 16 cidades do interior do país atendidas pelo programa, metade das crianças beneficiadas não correm risco de desnutrição e, portanto, não deveriam fazer parte do programa, que visa atender as consideradas em risco nutricional.
Além disso, ele disse que encontrou leite em pó sendo atacado por baratas e ratos nos armazéns.
As cidades foram visitadas por uma equipe da Unifesp a pedido do Ministério da Saúde. O relatório final sugere que 0,5% dos recursos sejam alocados no gerenciamento do programa, em vez de destinar toda a verba para a compra do leite.

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