São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997
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Franceses querem controlar Alcatel

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A PARIS E MADRI

O presidente da Alcatel Telecom para a América Latina, Miguel Canalejo, revelou, em Madri, que o grupo francês Alcatel quer assumir formalmente o controle acionário de sua subsidiária no Brasil.
Atualmente, a maioria (51%) das ações com direito a voto da Alcatel Telecomunicações no Brasil pertence à família Gouvêa Vieira, do Rio de Janeiro.
Na prática, os executivos da empresa já seguem a política traçada por Canalejo, que dirige a Alcatel da Espanha, principal unidade do conglomerado francês fora de seu país de origem.
Os franceses começaram a alimentar o desejo de assumir integralmente o controle da companhia no Brasil depois que o Congresso Nacional aprovou, em 1995, a emenda constitucional que eliminou as diferenças de tratamento entre empresas de capital nacional e estrangeiro.
Até agora, segundo Canalejo, a matriz só não formalizou a decisão para não correr riscos de ser alijada das concorrências públicas da Sistema Telebrás, que é o principal cliente das indústrias de equipamentos de telecomunicações.
"Gostaríamos de recuperar o controle da companhia o quanto antes, mas só faremos isso quando as normas que regem as concorrências da Telebrás forem adaptadas ao novo texto da Constituição. A legislação sobre transferência de tecnologia também precisa ser adaptada", afirmou Canalejo.
As empresas controladas por brasileiros têm vantagem de preço (até 12%) nas concorrências da Telebrás em relação às controladas por estrangeiros.
Até agora, a única empresa do setor cuja matriz estrangeira assumiu formalmente o controle de suas operações no Brasil foi a Ericsson.
No final de 96, os suecos trocaram as ações com direito a voto que estavam em poder de seus sócios brasileiros -Bradesco e Grupo Monteiro Aranha- por igual número de ações sem direito a voto. Canalejo considera que a Ericson ficou vulnerável a recursos de seus adversários nas concorrências da Telebrás.
A Alcatel é um dos maiores grupos mundiais de telecomunicações. Segundo a empresa, ela ocupa a quarta posição no ranking dos fabricantes de equipamentos de telefonia celular, atrás apenas da Ericsson, Nokia e Motorola.
Seu leque de produção vai desde satélites e fibra ótica até sistemas convencionais de telefonia por fio.
O grupo chegou ao Brasil em 1989 para concorrer com os três fabricantes que dominavam o mercado de equipamentos de telecomunicação: NEC, Ericsson e Equitel. Sua entrada foi difícil. Além de desembolsar US$ 125 milhões na compra de empresas locais (Elebra, Multitel, Sesa-Rio, Standard Eletrônica e ABC Teleinformática), acumulou um prejuízo de US$ 250 milhões até dezembro de 95.
Miguel Canalejo diz que o grupo não sabe quanto tempo levará para recuperar os US$ 250 milhões que injetou na companhia no ano passado para cobrir as perdas acumuladas: "De algum modo, consideramos que esse dinheiro fez parte do ingresso para entrar no mercado brasileiro".
Em 95, a matriz mundial do grupo fez uma completa reestruturação da subsidiária brasileira e colocou o francês Jean François Fille para comandar a empresa, com a responsabilidade de gerar lucro a partir de 97.
Na verdade, 95 foi um "ano de cão" para o grupo Alcatel, que fechou o balanço com o prejuízo recorde mundial de US$ 5 bilhões.
Embora os problemas fossem estruturais -que levaram a Alcatel a trocar de presidente também na França- a unidade brasileira, segundo Canalejo, estava entre os grandes problemas da Alcatel.
O executivo diz que o cenário mudou desde o ano passado. O volume de pedidos duplicou e dentro de dois meses será inaugurada uma nova fábrica em São Paulo.
"O Brasil é a estrela da nossa constelação e representa metade das vendas na América Lationa."

A jornalista Elvira Lobato viajou a Paris e Madri a convite da Alcatel.

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