São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997
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CORRUPÇÃO IMPUNE

A CPI dos Precatórios chega ao fim com grande probabilidade de que nada venha a ocorrer com os principais envolvidos. De cerca de R$ 240 milhões que, segundo ela, foram desviados dos cofres públicos, possivelmente pouco será recuperado.
Apesar da conclusão de que os governadores Paulo Afonso (PMDB), Miguel Arraes (PSB) e Divaldo Suruagy (PMDB), além do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB), desviaram recursos de sua finalidade constitucional, parece improvável que qualquer um deles seja punido.
Em Pernambuco e na cidade de São Paulo, os parlamentares governistas conseguiram até impedir que fossem instaladas comissões de inquérito.
Além do desvio de finalidade, o relatório aponta operações lesivas aos respectivos Tesouros. Nelas estão comprometidos pequenos bancos, corretoras e empresas de fachada, componentes da chamada "cadeia da felicidade". Quase todas essas instituições sofreram intervenção do BC. Mas a recuperação dos recursos é dificultada pela pulverização dos lucros fraudulentos em contas de doleiros e empresas "laranjas", que "alugavam" endereço e CGC, mas não ficaram de fato com a maior parte do dinheiro.
Os grandes beneficiários do esquema não foram ainda identificados e provavelmente não o serão.
Como em todas as questões públicas que envolvem grandes interesses, é claro que tanto o julgamento do que se passou como a eventual punição dos responsáveis têm componentes éticos e políticos.
Prova-o o fato de que as lideranças da CPI usaram as investigações não só para apurar, mas também para ganhar visibilidade.
Nada disso retira a legitimidade do relatório da CPI nem anula os desvios constatados. O fato é que o Brasil está prestes a descer mais um degrau na escada das práticas políticas.
Um país que tão frequentemente deixa os escândalos sem consequências enfraquece suas instituições e a própria democracia.

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