São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997
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DEMÊNCIA NO PAÍS BASCO

A violência como instrumento de ação política é sempre condenável. Cabe apenas, conforme reconhece o direito universal, como reação a uma tirania insuportável, um conceito que carrega necessariamente uma dose de subjetividade.
Com certeza, a Espanha que fez uma modelar transição para a democracia, a partir da morte de Francisco Franco, em 1975, não se enquadra no conceito de tirania.
Bem ao contrário, adaptou-se rapidamente à democracia, superando os inevitáveis traumas e divisões legados primeiro pela Guerra Civil (36/39) e, depois, pela longa ditadura franquista.
A história da Espanha contemporânea torna mais do que condenáveis os atentados praticados seguidamente pela organização separatista basca ETA ("Euskadi Ta Askatasuna" ou Pátria Basca e Liberdade).
Tais atos só podem ser qualificados de demenciais. Se ainda fosse necessária uma prova, ela foi dada no fim-de-semana, com o assassinato de um vereador, sequestrado pelo ETA para reivindicar que 500 de seus presos fossem concentrados em um único presídio.
Apelos pela vida do sequestrado partiram até de setores que, no passado recente, estiveram próximos ideologicamente do ETA e também praticaram violências, como é o caso dos Tupamaros do Uruguai.
Implacável na sua insânia, o ETA a todos ignorou. É possível, de todo modo, que o triste episódio acabe tendo um aspecto positivo: jamais a sociedade espanhola reagiu em massa contra a violência como ocorreu no fim-de-semana.
Talvez seja a manifestação que faltava para que os dementes do ETA se convençam de que não são lutadores pela liberdade de sua pátria, mas assassinos isolados, repudiados até pela grande maioria dos bascos.
A morte do vereador e o forte repúdio ao crime demonstram que o ETA conseguiu ultrapassar todos os limites, mesmo em um mundo permeado por uma violência sem lógica.

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