São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Conselho a investidor é ter 'cabeça fria'

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Depois de uma valorização de 93,4% em pouco mais de seis meses, todo o mercado esperava que a Bolsa caísse. A intensidade da queda, entretanto, surpreendeu.
"É violento demais", admite Heitor Hortêncio Jr., diretor da corretora Síntese.
Ele diz que a baixa começou na semana passada como uma "realização de lucro" normal, ou seja, quando investidores vendem para lucrar com a alta anterior.
Em seguida, porém, veio o "medo da Ásia" -crise cambial na Tailândia e outros países da região- e o boato sobre desvalorização do peso argentino.
"Como o mercado inteiro estava comprado, sem notícia boa, e os estrangeiros estão retraídos, virou efeito-dominó", explica Hortêncio, para quem a queda pode continuar por algum tempo.
Dalton Gardimam, economista-chefe do Deutsche Morgan Greenfell no Brasil, analisa a baixa como contrapartida à alta muito forte do primeiro semestre. "A crise na Ásia é desculpa", diz ele, argumentando com o mercado de câmbio, que está mais calmo.
Depois da aprovação da emenda da reeleição, e com exceção da privatização da Vale, não houve motivos técnicos para alta tão forte, acrescenta o economista.
Gardimam entende, porém, que os fundamentos de longo prazo continuam positivos para a Bolsa, devido às privatizações.
Para Randolph Haynes, diretor da corretora Coinvalores, a crise na Ásia "detonou uma realização de lucros que era esperada".
Ele recomenda "cabeça fria ao investidor, pois a atuação em Bolsa nunca deve ser emocional e o mercado tem condições de se acalmar daqui a alguns dias".
Haynes se preocupa com o comportamento de pessoas físicas que entraram em fundos de ações, sem uma boa orientação.
"Se o fundo foi 'bem vendido', com a perspectiva de longo prazo, o cotista não tende a resgatar nessas horas", afirma.
Marcelo Giufrida, vice-presidente do Banco CCF Brasil, concorda que a realização de lucro, embora esperada, é bem forte.
Mas, numa perspectiva histórica, a queda chega a ser uma correção normal, concentrada num prazo curto, opina Giufrida. Em 12 meses, a alta, que superava 100%, é de 80%, compara.
Giufrida reconhece que a Bolsa pode continuar caindo hoje, mas o ajuste estaria perto do fim. Ontem, relata, já houve investidor estrangeiro comprando. "Não vejo o fim do mundo, a Bolsa não acabou."
O consultor Paulo Possas também não recomenda que o investidor saia agora da Bolsa. "Se resgatou na semana passada, tudo bem. Hoje, não vale mais, mesmo porque os bancos pedem até três dias para o resgate nos fundos", diz ele.
Possas critica duramente fundos carteira livre de grandes bancos que estavam 100% posicionados em ações, "e ações especulativas", o que agravou a queda das cotas. "Isso é criminoso", desabafa ele.

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