São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Motta ataca Gustavo Franco e deixa mercado mais tenso

Depois, ministro diz que crítica não era sobre o câmbio

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, criticou ontem o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, e defendeu a destinação de recursos da privatização para programas da área social.
As críticas foram feitas ontem à tarde, na entrada do ministério, e deixaram o mercado financeiro e a Bolsa ainda mais tensos. Em conversa com jornalistas, Motta disse que "a crise mostrou que o Gustavo Franco está errado".
Questionado sobre a que crise se referia, disse que estava falando dos países asiáticos. Nos últimos dias, Tailândia, Indonésia e Filipinas desvalorizaram sua moeda para estancar a fuga de capitais.
Franco é o principal defensor da atual política econômica, baseada na sobrevalorização do câmbio e rigidez monetária.
Motta disse ainda, na conversa com jornalistas, que "não adianta fazer estabilização econômica sem estar atrelado a um projeto de desenvolvimento".
No final da tarde, Motta falou com a assessoria de imprensa do Banco Central para tentar explicar suas declarações. Segundo o BC, Motta disse que não fez críticas à política cambial do governo.
"Ele negou categoricamente que tenha criticado Gustavo Franco", disse a assessora de imprensa do BC, Silvia Faria.
Segundo ela, o ministro explicou que suas declarações se referiam à proposta do diretor de usar os recursos da privatização para abater a dívida pública.
A mesma versão foi divulgada pela assessoria de imprensa do ministro no início da noite.
Privatização
Motta defende que somente metade dos recursos arrecadados com a privatização da telefonia celular seja utilizada no abatimento da dívida pública.
O restante teria a seguinte destinação: 30% para financiamento de projetos econômicos e 20% para programas sociais.
Motta fez questão de ressaltar que estava manifestando "uma opinião pessoal" e que a decisão final será do presidente Fernando Henrique Cardoso.
FHC deve se reunir ainda esta semana com seus ministros para tratar do assunto. A equipe econômica defende que a maior parte dos recursos seja usada para reduzir a dívida pública.
Ao comentar a proposta de Motta, o ministro Clóvis Carvalho (Casa Civil) afirmou que estão dizendo que ele "tem brigado e dito que os recursos todos têm que ir para lá. Essa não é uma competência formal do ministro".
Apesar dessa declaração, Carvalho disse que o ministro, como líder político, pode opinar.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, também comentou as declarações de Motta, amigo do presidente FHC. Amaral disse que "se houve a declaração (sobre Gustavo Franco), quem errou foi o ministro".
"O presidente (FHC) tem confiança no presidente do Banco Central", afirmou o porta-voz, que errou o cargo de Gustavo Franco, que é diretor de Assuntos Internacionais do BC.

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