São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Freire faz grande concerto no Municipal

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pode um solista internacional, ainda que com uma orquestra em crise e um piano deficiente, proporcionar um grande concerto?
Quando o solista é Nelson Freire, a resposta é sempre sim -como ficou demonstrado em sua apresentação de anteontem, com a Orquestra Sinfônica Brasileira, na série dos Patronos do Teatro Municipal de São Paulo.
O problemático piano Steinway nova-iorquino do Municipal dificultou, mas não chegou a inviabilizar o "tour de force" de Freire, que tocou "Concerto nº 3" e "Concerto nº 4", de Beethoven.
Pianista e orquestra se atrapalharam um pouquinho no início do "Concerto nº 3", em dó menor, concebido pelo solista como uma obra mais otimista, e em cujo "Largo" Freire demonstrou sensibilidade suficiente para não encobrir o singelo dueto entre flauta e fagote -para muitos pianistas, uma tentação irresistível.
Mais rico e ambíguo, o "Concerto nº 4", em sol maior, teve uma realização particularmente encantadora do movimento lento, dilacerante no contraste entre os temas do piano e da orquestra, criando uma exasperação que só seria aliviada pelo movimento final, um rondó brilhante e virtuosístico, cuja riqueza rítmica o pianista soube enfatizar.
Depoi do intervalo, o Municipal ficou sem Nelson Freire -e, mais grave, sem Beethoven.
Seria injusto não reconhecer os méritos da OSB do maestro Roberto Tibiriçá na execução da "Sinfonia nº 5", de Tchaikovski.
Mas não há interpretação que torne suportáveis, depois dos ricos insights beethovenianos, os gestos pueris, peremptórios e grandiloquentes do compositor russo.
Concessão de Tibiriçá ao ruidoso público de Campos do Jordão -onde a OSB se apresentou no domingo-, a sinfonia foi o anticlímax do concerto, funcionando como uma espécie de bis longo e tonitruante.

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