São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
Texto Anterior | Índice

Imposto pelo saber

GILBERTO DIMENSTEIN

Às vésperas do final do século, o governo brasileiro ainda não está preparado para investigar como os bancos pagam (ou deixam de pagar) seus impostos. Palavra da própria Receita Federal.
O secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, está estudando as declarações dos bancos. "Eles estão pagando muito pouco, são quantias ridículas", afirma. Por trás das "quantias ridículas" estão hábeis advogados, manejando leis para reduzir ao máximo o pagamento de impostos, num labirinto de deduções.
É tão complexo que decidiram criar esta semana um departamento apenas para vasculhar os bancos.
*
Ele contou esse caso para justificar sua posição contra proposta germinada entre empresários de um incentivo fiscal, semelhante às artes, para quem adota escolas públicas -a proposta é apoiada por esta coluna.
O melhor caminho, segundo ele, é simplificar os impostos, fazendo que todos paguem. Suspeita dos incentivos, os quais, acrescentou, são estímulo; como pernambucano, ele viu com os próprios olhos a corrupção gerada por incentivos no Nordeste.
A análise é tecnicamente razoável -mas politicamente inadequada.
*
Sem investir em educação, exigindo mais envolvimento da sociedade, o Brasil vai ficar patinando no subdesenvolvimento.
Já estamos caminhando para o nível em que as elites sindicais e empresariais, donas dos meios de comunicação, sabem que as escolas públicas são uma questão de segurança nacional, vitais para o desenvolvimento econômico.
É o ambiente necessário para um projeto de salvação nacional: um grupo das principais personalidades da sociedade, junto com professores e autoridades públicas, gerindo um fundo para melhorar a escola pública.
Raros estímulos seriam mais eficientes do que premiar via imposto quem adota uma escola pública, a exemplo do que se propaga aqui nos EUA.
*
Expus a Everardo as idéias do parágrafo acima. Continuou reticente, mas acabou cedendo: "Se, veja bem, se conseguirem criar esse clima, mudo de opinião e, caso convidado, entro na gerência desse programa".
*
PS - Minha mudança para Nova York, acompanhando o debate sobre educação americana e os impactos tecnológicos, criaram em mim uma convicção: um movimento pela melhoria da escola pública vai ter impacto social tão relevante como teve, no final do século passado, a libertação dos escravos. É, certamente, o mais importante desafio da minha geração.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

Texto Anterior: Terapia genética reverte lesão na medula espinhal de ratos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.