São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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CRISE NA BOLSA

O nervosismo que tomou conta dos mercados financeiros, desde o agravamento da crise cambial em países asiáticos, na sexta-feira, acabou contaminando o governo. Só assim pode-se entender a desastrada crítica do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, ao diretor da Área Externa do Banco Central, Gustavo Franco.
Os mercados só poderiam ler a crítica da seguinte maneira: o ministro que é tido, certa ou erradamente, como uma espécie de porta-voz informal do presidente da República ataca o homem que, também certa ou erradamente, é considerado o pai da política cambial vigente.
Essa leitura lógica explica por que a Bolsa caiu ainda mais tão logo os serviços informativos on line reproduziram mais essa intervenção extemporânea de Sérgio Motta, embora ele próprio tivesse posteriormente tentado corrigi-la.
Como o ministro é reincidente em episódios do gênero, sua intervenção tornou ainda mais delicada uma situação que antes já não era tranquila (afinal, a Bolsa de São Paulo caiu 14,6% nos últimos três dias úteis, depois de ter subido 93% do início do ano até quinta-feira passada).
Esta Folha já havia salientado, no dia seguinte às mudanças cambiais nas Filipinas e na Indonésia, que, a médio ou longo prazo, são insustentáveis políticas que levem a um elevado déficit externo. Os números divulgados segunda-feira mostram que o déficit brasileiro duplicou no primeiro semestre de 97, na comparação com idêntico período de 96.
Havia, portanto, razões para uma certa ansiedade, antes mesmo dos fatos de ontem. Depois deles, o nervosismo tende naturalmente a aumentar. Mas seria um despropósito tomar cada má notícia em algum mercado emergente ou cada frase desastrada de Sérgio Motta como sinal de que o Brasil está na iminência de entrar em crise cambial.
O país tem, de fato, um problema nas contas externas, mas é um problema cujo efeito será sentido a médio ou longo prazo. Lamentável é que o próprio governo, pela voz de um de seus ministros, crie um problema de curtíssimo prazo ao condenar a política cambial.

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