São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Maluf é citado em depoimento à PF

DA FOLHA CAMPINAS

O ex-secretário das Finanças de Campinas Geraldo Biasoto Júnior, primeiro a mencionar oficialmente o envolvimento do ex-prefeito Paulo Maluf no caso dos precatórios, afirmou ontem ter recebido orientações do ex-coordenador da Dívida Pública de São Paulo Wagner Baptista Ramos sobre a emissão de títulos públicos para o pagamento de dívidas judiciais.
Segundo depoimento do ex-secretário à Polícia Federal anteontem, o contato com Ramos, apontado pela CPI dos Precatórios como o "mentor" das fraudes, teria sido feito por indicação de Maluf.
Biasoto afirma que o ex-prefeito de Campinas José Roberto Magalhães Teixeira, que, de acordo com ele, tinha "um bom relacionamento" com Maluf, encontrou-se com o ex-prefeito paulistano para negociar a emissão.
"Maluf informou que a Prefeitura de São Paulo emitia títulos públicos para efetuar pagamento de precatórios", diz no depoimento.
"Assim sendo, Magalhães me recomendou comparecer à Secretaria das Finanças da capital, com a finalidade de me familiarizar com a sistemática empregada pela Prefeitura de São Paulo. Disse que procurasse pelo coordenador da Dívida Pública da capital."
Em nota à imprensa, a assessoria do ex-prefeito diz que as declarações são "uma torpe tentativa" de envolvimento do ex-prefeito no escândalo e se refere a Biasoto como "criminoso" e "pessoa desqualificada".
Em seu depoimento, Biasoto ainda admite que, "considerando a situação financeira caótica de Campinas", "combinou" com o ex-prefeito Edvaldo Orsi (que assumiu a prefeitura após a morte de Magalhães) que os valores obtidos com os títulos seriam gastos em outros "compromissos", o que é proibido pela Constituição.
*
Folha - Os ex-prefeitos Magalhães Teixeira e Paulo Maluf se encontraram em Campinas só para negociar sobre as emissões?
Geraldo Biasoto Júnior - O Maluf foi procurado para informar sobre a inclusão de precatórios já pagos na lista que foi para o Senado. A Prefeitura de São Paulo pediu que os precatórios já pagos fossem repostos, e gostaríamos de saber se isso seria possível em Campinas.
Folha - O sr. esteve na reunião?
Biasoto - Não, não participei.
Folha - Quando os contatos ocorreram?
Biasoto - Foi entre abril, maio e junho, antes da emissão.
Folha - Qual seria o relacionamento entre Teixeira e Maluf?
Biasoto - Não sei. Uma vez fui a Brasília com o Magalhães Teixeira e os dois se encontraram com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com prefeitos para discutir a reeleição de prefeitos.
Folha - Quanto aos precatórios, qual era a ligação?
Biasoto - O Magalhães Teixeira queria pagar os precatórios mais novos, tinha coisas grandes. E o Maluf já havia conseguido a reposição do dinheiro com que ele havia pago os precatórios.
Folha - Como isso funcionava?
Biasoto -A prefeitura paga os precatórios com o seu próprio dinheiro e depois o dinheiro da venda dos títulos públicos emitidos junto ao Senado restitui os gastos.
Folha - Maluf garantiu ter conseguido a reposição?
Biasoto - Sim, ele conseguiu com uma resolução de 94 na prefeitura, o que possibilitou emitir títulos para repor o dinheiro.
Folha - O sr. teve contato com Wagner Ramos?
Biasoto - Fui até a Prefeitura de São Paulo para conversar com ele, que era coordenador da Dívida Pública. Ele não era esse bicho-papão em que se transformou hoje. Que fique bem claro que que eu não me encontrei com o Maluf para falar dos títulos, só com Ramos.
Folha - Ele não fez nenhum tipo de proposta para que Campinas entrasse no esquema dos precatórios adotado em São Paulo?
Biasoto - Não dava para notar nada de tudo isso que surgiu com as investigações. Ele não me propôs nada. Até perguntei sobre o deságio dos títulos. Ele me respondeu que as operações eram todas compromissadas e que não haveria perigo na transação. Ele nem mencionou o Banco Vetor. Perguntei como era o mercado de títulos e ele me disse só isso.

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