São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Cerco a Assembléia obriga Suruagy a pedir licença

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Depois de mais de dois anos de crise financeira, o governador de Alagoas, Divaldo Suruagy (PMDB), licenciou-se ontem do cargo em meio a uma revolta popular e ameaças de invasão da Assembléia Legislativa e de assassinato de deputados governistas.
"Aceitei tirar licença para manter a paz em Alagoas e para proteger os deputados aliados que estão sitiados na Assembléia", disse Suruagy às 12h em entrevista em que justificou seu afastamento.
O governador já havia sido alertado de que seria forçado a deixar o governo, durante reunião com sua bancada realizada na noite de anteontem. Os deputados aliados sugeriram a Suruagy que tirasse a licença, mas ele se recusou.
Ontem, armados e a ameaçando de morte os deputados, 15 mil manifestantes forçaram o governador a deixar o cargo.
No plenário da Assembléia, onde ocorria a manifestação pelo afastamento do governador, o clima era tenso. A maioria dos deputados estava armada.
Os manifestantes, sem salários há mais de seis meses, enfrentaram ontem por várias vezes as baionetas, fuzis, pistolas e cassetetes dos 250 homens do Exército que davam proteção ao prédio da Assembléia Legislativa, onde seria votado o impeachment do governador.
Pouco depois das 8h30, os manifestantes derrubaram parte da grade de proteção da praça Dom Pedro 2º, em frente à Assembléia, espaço que eles queriam ocupar para ficar mais perto dos deputados.
Batalha
O pior confronto aconteceu quando a prefeita de Maceió (AL), Kátia Born (PSB), que havia prometido liberar a praça aos manifestantes, atravessou a barreira para negociar com o Exército.
Após a prefeita passar, um grupo de mais de 50 pessoas invadiu a praça. Para conter a invasão, o Exército começou a disparar cartuchos reais e bombas. Estava armado o cenário da batalha que durou entre cinco e dez minutos.
Três pessoas ficaram feridas à bala. Mais de dez manifestantes tiveram escoriações pelo corpo. "Não atiramos em ninguém. Demos tiros reais para cima. Depois entregamos a praça aos manifestantes, o que já prevíamos. Usamos a praça como trunfo para negociação", disse o major do Exército Mário Ferreira Vilaça Neto, que comandava a operação.
Afastamento
Após o tiroteio, mais de 30 PMs da tropa de elite da corporação apareceram encapuzados e armados em prédios que lhes davam condições ideais de tiro contra os homens do Exército e qualquer deputado que deixasse o prédio.
Os deputados se fecharam em reunião e decidiram votar pelo impeachment. Mas o impeachment não garantia a saída do governador do cargo -como aconteceu com Paulo Afonso Vieira (SC)- e eles continuariam reféns.
Assim eles decidiram forçar o governador a pedir licença do cargo, única forma legal de afastar o governador ontem. Sem opção, Suruagy aceitou a negociação.
Mandou às 12h10 o ofício se desvinculando do cargo por prazo indeterminado. Porém os nove deputados da oposição negociaram com a bancada governista e fixaram o afastamento em seis meses. O prazo foi estabelecido em um decreto legislativo.
O vice-governador Manoel Gomes de Barros (PTB), amigo de Suruagy e tratado como governador em anúncios oficiais, assume hoje.
O processo de impeachment contra Suruagy foi adiado. Voltará a ser analisado no dia 4, quando termina o recesso do Legislativo.
Ontem, foi juntado ao processo o relatório final da CPI do Senado que acusa Suruagy de ter cometido crime de responsabilidade devido à utilização ilegal de R$ 301,6 milhões em títulos para pagamento de dívidas judiciais (precatórios).
"Com a licença responderei qualquer processo que venha, porque estou com a consciência tranquila, certo de que nunca cometi nenhum ato lesivo ao Estado", afirmou Suruagy, que governa o Estado pela terceira vez.
Em 94, Suruagy foi o governador proporcionalmente mais votado do país, com 79% dos votos.

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