São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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O risco à vista

JANIO DE FREITAS

O aquartelamento, ou apresentação normal dos soldados sem, no entanto, aceitarem serviço externo, é a melhor das formas de protesto das PMs, por não envolver os riscos de manifestações públicas, mas implica a recusa ao cumprimento de deveres e ordens e, portanto, constitui estado de insurgência. Aí está, porém, só a face imediata e visível do problema.
A outra, não menos séria, e talvez mais, é esta incógnita: em que medida a radicalidade das PMs exprime uma saturação mais geral e adverte para uma fase de eclosões semelhantes, em diferentes setores dos serviços federais, estaduais e municipais?
Por mais que o risco de demissão passe a ameaçar os servidores públicos, com a quebra de sua estabilidade pelos parlamentares governistas, é ilusória a suposição de que o governo possa acrescentar tempo incalculável aos dois anos e meio, já decorridos, sem correção dos vencimentos do funcionalismo civil. E nem é essa a única fonte da insatisfação crescente, porque os cortes ou retenções de verbas estão prejudicando e até inviabilizando inúmeros serviços, com as inevitáveis repercussões emocionais, além de outras, nos prejudicados.
O estouro da PM em Belo Horizonte deixou claro, desde o primeiro minuto, que o seu motivo e sua determinação não correspondiam a uma circunstância local. Eram comuns a muitos Estados. Nem por isso os governadores que agora pedem proteção ao Exército adotaram, então, alguma iniciativa acauteladora. É assim, também, que o governo federal está agindo.
Onírica
Em duas semanas, nove bebês abandonados em São Paulo, nas circunstâncias mais deprimentes. Só pode ser por influência do destaque dado pelos meios de comunicação, e mais precisamente pela TV, que um fato assim horrendo desencadeie, de repente, uma sequência de repetições.
As mães foram quase todas identificadas. Seria fácil recolher delas as fontes inspiradoras do seu gesto. E talvez isso servisse para alguma reflexão útil, para não dizer humanamente indispensável. Mas por aqui não há esse tipo de curiosidade. Ainda mais se para produzir, veja só, reflexão.

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