São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Ônibus espacial traz experiência brasileira

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Uma pista-chave para um futuro tratamento contra a doença de Chagas pousou ontem a bordo do ônibus espacial americano Columbia: um experimento brasileiro de crescimento de cristais, obtidos de uma proteína do parasita que causa a doença.
Os cristais dessa "proteína espacial" (que cresceram no espaço) deverão ser estudados em setembro no mais importante equipamento da ciência do país, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que iniciou seus serviços aos cientistas no último dia 1º, em Campinas (99 km de SP).
"Estamos guardando os melhores cristais para setembro, quando o síncrotron vai inaugurar sua linha de cristalografia", disse o principal autor do experimento, Glaucius Oliva, da USP em São Carlos (244 km de SP).
O síncrotron, nas palavras do seu diretor, Cylon Gonçalves da Silva, "é uma máquina que converte energia elétrica em informação". Isto é, ele acelera elétrons a altas velocidades, que emitem luz de diferentes cores no processo.
Essa luz é jogada em diferentes materiais, e o estudo da reflexão permite saber detalhes da estrutura desse material. A função do laboratório é de "entregar luz" para usuários de universidades e institutos de pesquisa. Hoje já funcionam 7 das 24 "linhas de luz" (pontos de coleta da luz para aplicação) que o síncrotron pode ter.
Uma delas é o raio X, que permite descobrir detalhes da estrutura das proteínas por meio do estudo de seus cristais. "Para interferir com a proteína de um parasita, é preciso ter a informação estrutural dessa proteína", afirma Oliva.
A "proteína espacial" é vital para o parasita, o tripanossoma (um animal unicelular), pois participa da reação química de quebra do açúcar, que produz energia para ele viver. Ao descobrir sua forma, os cientistas podem projetar uma droga para agir especificamente contra ela.
A linha de luz deverá ser inaugurada em setembro com o estudo da proteína do tripanossoma.
A construção do síncrotron começou em 1987. Custou R$ 70 milhões, mas levou todo esse tempo para entrar em operação devido a um financiamento irregular, apesar de ser considerado um projeto vital pela comunidade científica.
Hoje ele já tem 76 projetos de usuários aprovados.

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