São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Canudos provoca polêmica em debate

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

Cem anos depois, Canudos foi objeto de uma nova guerra -desta vez metodológica e de interpretação-, no debate na SBPC sobre esse episódio do início da história republicana. Em 1897, essa comunidade mística do interior da Bahia foi massacrada pelo Exército.
Hoje Canudos ainda desperta paixões radicais -principalmente pelo seu papel de concentrar questões como justiça social, posse da terra, religião e papel das forças armadas, entre outras.
Para Marco Antonio Villa, da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), muito da historiografia sobre Canudos peca pelo "vício das origens". Ou seja, são interpretações feitas a priori, nas quais os fatos devem ser encaixados depois. "E há o vício das citações, ninguém vai às origens".
Villa exemplificou com a idéia comum de que havia "messianismo" no arraial, partida dos trabalhos da socióloga Maria Isaura Queiroz. Mas o líder espiritual de Canudos, Antonio Conselheiro, não se dizia um messias.
Para o historiador da Ufscar, a religião é o principal dado para se entender Canudos, era o "cimento" que mantinha unida aquela comunidade.
O drama regional de Canudos, a autonomia que o arraial mantinha em face aos coronéis da região, criou os ingredientes para uma intervenção federal da nascente república. A autoridade do Rio de Janeiro se sentiu ameaçada, e terminou por enviar uma grande expedição que arrasou Canudos.
Fernando Massote, cientista política da UFMG, desqualificou Canudos como um exemplo de luta social a ser seguido. "Canudos é feio", resumiu ele, que coordenou a mesa.
A atuação de Massote, cortando a palavra de pessoas e provocando agressivamente os outros debatedores, foi objeto de protestos da platéia e de uma reclamação formal à coordenação da reunião, feita pelo estudante Carlos Ferreira Graciano Jr., da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) e pela geógrafa Gislene Margarida Pereira. Os dois criticaram a "falta de ética e de respeito" da atuação de Massote, que "atuou de forma autoritária" e "sem argumentação lógica". Massote repetiu várias vezes que tinha "o maior respeito" pelos colegas.

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