São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Farah deseja a CBF, sonha com a Fifa

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Presidente da Federação Paulista nega inchaço do Estadual e diz que benefício ao Bragantino pode ser revisto

Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista de Futebol, diz que não é candidato à CBF. Mas fala, age e faz contas como um verdadeiro postulante ao cargo.
Anteontem, o dirigente lançou uma nova fórmula para o Estadual -com quatro fases, de 24 de agosto a 17 de maio, e 48 clubes.
Ontem, exerceu sua matemática. Chamou de Paulista-98 apenas as duas últimas fases, em que jogam 16 clubes, como neste ano.
Em um momento, diz sair fortalecido da recente confusão do futebol. Em outro, explica sua condenação pública -"o torcedor acha que todos estão no mesmo saco".
Político, capaz de lamentar não ter forças para evitar favorecimento ao Bragantino. E emendar que isso "não está fora de cogitação".
A seguir, trechos de sua entrevista concedida ontem à Folha.
*
Folha - Por que o sr. fez tudo o que fez na última semana?
Eduardo José Farah - A imprensa pediu. A reunião já estava marcada. Num programa de rádio, no sábado, me perguntaram: 'Por que não consultar os clubes para ver se eles estão contentes com o Brasileiro?'. Falei: será o primeiro item da reunião. Criou-se, aí, a imagem de sair do torneio.
Folha - O sr. não propôs boicote?
Farah - Não. Falei que ia consultar os clubes. Que tinha uma alternativa para eles, um torneio onde uns ganhariam (R$) 400 mil, outros (R$) 500 mil, para que pudessem fazer face à não entrada de receita do Brasileiro. O tumulto nasceu de setores da imprensa que queriam uma posição dos clubes. Mas foi uma reunião pacífica.
Folha - Até um anticlímax.
Farah - Esperava uma posição mais dura deles. Mas a gente tem que levar em consideração que eles têm uma tríplice afiliação. São afiliados à CBF, à Paulista e agregados a um clube dos 13, hoje 16, e não sei se serão 40 amanhã.
Folha - Mas o sr., em nenhum momento, pregou o boicote?
Farah - Nunca usei essa palavra. Nós queríamos a volta à legalidade. Essa era a nossa proposta.
Folha - Mas o sr. acabou saindo em evidência do episódio.
Farah - Cresceu mais do que eu esperava. Se eu fosse candidato a algum cargo político, eu estava mais ou menos bem. Fui divulgado pra burro (ri).
Folha - Aliás, o sr. é candidato?
Farah - Lamentavelmente, não sou, obrigado. Não sou e não serei.
Folha - Nem à CBF, em 2000? Farah - Não sei se estou vivo até o ano 2000. Se estiver bem, posso até ser. Não vou dizer que não gostaria de ser presidente da CBF. Eu gostaria de ser presidente da Fifa (ri).
Folha - Então o sr. acha que tem possibilidade de chegar à CBF?
Farah - Possibilidade eu tenho. Acredito que eu esteja entre os que conhecem algo de futebol.
Folha - E, nesse momento, o sr. toma essa atitude. Isso ajuda?
Farah - Não, agora eu seria mais boi-de-piranha. Não foi oportunismo. Só defendi uma boa tese, não compreendida pelos clubes. Até então, eram vítimas. Agora, estão em situação ruim. Eles deveriam ter pressionado a CBF.
Folha - Mas o sr. esperava alguma atitude diferente?
Farah -Eu tinha uma expectativa. Acho que o Corinthians, por exemplo, que teve seu presidente, segundo eles mesmos, injustiçado pela CBF, deveria ter exigido a saída dos dois. Fiquei frustrado.
Folha - A nova fórmula do Paulista-98 foi elaborada agora?
Farah - Estava pronta para ser discutida no Conselho Arbitral. Só a reelaboramos para incluir os clubes do Brasileiro. Mas ela está sujeita à aprovação dos clubes.
Folha - Alguns já reclamaram.
Farah - O Araçatuba, o Mogi Mirim e o União São João acharam que o Bragantino foi beneficiado.
Folha - E não foi?
Farah - Não. Ele vai entrar numa fase classificatória. Em tese, qualquer clube, da A-1, A-2 ou A-3, tem chance. Como o Bragantino está no Brasileiro, o que não calculávamos, ele pula uma etapa.
Folha - Não era o caso...
Farah -Era o caso de não colocar. Mas não tenho outra opção. Entendo que era caso de não colocar. E não está fora de cogitação.
Folha - Mas o torneio, junto com o Brasileiro, terá espaço?
Farah - Não posso responder com dados. Mas aguarde uma semana. Teremos surpresas agradáveis em termos de patrocínio e TV -já que essa fase não é Paulista. Mas não pretendemos concorrer.
Folha - Pela proposta, um time que atue na primeira partida da Taça, em tese, pode estar na final. Ou seja, o campeonato inchou?
Farah - Em 96, o Paulista teve 240 partidas. Em 1997, 190. Em 98, terá 180. Nós estamos reduzindo. Além disso, estamos reduzindo a participação dos grandes clubes. A FPF é a única entidade do Brasil que está cumprindo o projetado no "Falso" Fórum da CBF.
O Paulistão 98 não sofreu alteração de um único clube. Continua com 16, que é a menor primeira divisão de campeonato no mundo.
Folha - É o seu ponto de vista.
Farah - Não, isso é um fato. Não mudamos nada. Fazemos tudo dentro da lei (mostra o estatuto).
Folha - Qual o saldo da semana?
Farah - Nem eu nem a FPF estávamos em julgamento. Mais objetivamente, se eu fizesse a eleição aqui amanhã, teria 98% dos votos.
Folha - A maioria do público, segundo o Datafolha, opinou que o sr. agiu por interesse próprio.
Farah - Se você fizer hoje vai dar uns 95% (30 pontos percentuais a mais). É normal esse tipo de reação num país em que a entidade máxima do futebol cata dois clubes e coloca na primeira divisão. O torcedor, infelizmente, acha que todos estão no mesmo saco.
Folha - Caso o sr. fosse presidente da CBF, o que faria primeiro?
Farah - Fecharia para balanço. Mudaria tudo. Sou totalmente contra a atual administração.

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