São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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'Cantora Careca' vê o vazio das relações

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

"Cuidar de um projeto desde a produção até a direção é uma novidade para mim. Por isso estou ansioso", disse o diretor à Folha na terça-feira.
"A Cantora Careca" é a segunda peça dirigida por Camargo (a primeira foi "Bailei na Curva", em 1993). Detentor dos direitos há um ano, ele considera o texto "praticamente inédito" no Rio -a única encenação foi feita em 1982, com direção de Luís de Lima.
"Isso me deu muita liberdade de criação, já que não queria fazer uma montagem igual à dele. Poderia ter optado por uma encenação estática, como Ionesco pede em algumas de suas rubricas, mas preferi o movimento, para realçar a sensação de solidão dos personagens", disse.
A peça foi escrita em 1948. O texto gira em torno de dois casais típicos da burguesia inglesa, os Smith e os Martin, que se mantêm unidos pelas regras de convivência social.
Mrs. Smith (Márcia Duvalle) é uma mulher carente que tenta chamar a atenção do marido, Mr. Smith (Leonardo Serrano). Ele, sem paciência, tem ataques histéricos a cada tentativa de diálogo.
A visita dos Martin (Ericson Pires e Adriana Rabello) deixa claro o vazio existente na relação dos Smiths. Silêncios constrangedores pontuam as tentativas de conversa entre os casais.
A distância entre os personagens é ressaltada pelo cenário de Biza Vianna. A cenógrafa criou um labirinto que, para o diretor, deixa ainda mais evidente o quanto os personagens estão perdidos em suas relações pessoais. "Ionesco mostra pessoas que existem socialmente, mas que não existem entre si, não têm o que dizer umas às outras", afirmou o diretor.
Felipe Camargo procurou realçar o constrangimento existente entre os casais ampliando os momentos de silêncio previstos por Ionesco.
"Quis exagerar um pouco para mostrar a falta de cumplicidade e amor entre os dois casais."
"A Cantora Careca" fica em cartaz até o final de agosto. Depois, deve seguir em turnê.
Felipe Camargo já tem outros projetos em vista. Em outubro, ele deve participar da encenação de "O Marido Ideal", texto de Oscar Wilde que será dirigido por Luiz Arthur Nunes.
O ator vai participar também do filme "O Dia da Caça", dirigido por Alberto Graça e com roteiro de Leopoldo Serran, e da próxima novela das 19h, ainda sem título, que está sendo escrita por Euclydes Marinho.
(CG)

Peça: A Cantora Careca, de Eugène Ionesco
Direção: Felipe Camargo
Onde: Teatro Gláucio Gill (praça Cardeal Arcoverde, s/nº, Copacabana, tel. 021/547-7003)
Quando: quintas, às 21h; sextas e sábados, às 21h e meia-noite; domingos, às 20h Quanto: R$ 15

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