São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Padre faz cronologia de Antonio Vieira

CHRISTIANNE GONZÁLEZ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Radicado há 41 anos no Brasil, o padre italiano Carlos Bresciani, 85, aproveitou os 300 anos de morte do padre Antonio Vieira, que se completam hoje, para escrever "Um Encontro com Vieira" -trabalho que abrange as cronologias da vida e da obra "Sermões", considerada a mais importante do orador.
Bresciani é presidente da Cohiba (Comissão de História Jesuítica da Bahia) e considerado um dos maiores estudiosos da obra do padre português.
Dividida em três partes, a publicação de Bresciani define cinco períodos na vida do padre Vieira -"Formação" (1608/41), "Diplomata" (1641/52), "Missionário" (1652/61), "Inquisição" (1661/82) e "Trabalho na Bahia" (1682/97). A seguir, leia os principais trechos da entrevista de Bresciani à Agência Folha.
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Agência Folha - Por que o sr. decidiu escrever uma cronologia sobre o padre Antonio Vieira?
Carlos Bresciani - Acredito que esse tipo de trabalho poderá contribuir para facilitar o aprendizado sobre a vida e a obra do padre Vieira. Quem não pode ler publicações mais amplas, por exemplo, terá a oportunidade de conhecer um pouco de sua vida. A partir da consulta cronológica também ficará mais fácil a pesquisa dos 15 volumes de sermões.
Agência Folha - Alguns historiadores definem a vida do padre Vieira em três períodos. Por que o sr. a define em cinco fases?
Bresciani - Acho que a vida do padre Vieira não pode ser tão sintetizada. Só com a sua formação jesuítica, a fase diplomática e o processo de inquisição já são três períodos. Faltava distinguir sua vida missionária no Grão-Pará (Maranhão, Pará, Amazônia) e na Bahia, que são períodos diferentes.
Agência Folha - Para a confecção da cronologia de "Sermões", o sr. tomou que obra como base?
Bresciani - Aproveitei a "História da Companhia de Jesus no Brasil" (edição de 1949, de Serafim Leite) e "A Oratória Barroca de Vieira" (edição de 1989, de Margarida Vieira Menezes). Todos os textos de "Sermões" são da editora Hello e Irmão (Porto, 1959), que conserva a ordem e distribuição dos sermões desde a publicação de 1907.
Agência Folha - O que mais o sr. trata em "Um Encontro com Vieira"?
Bresciani - Incluí três exortações que ele fez em 1688 para a comunidade religiosa de Salvador, que são oratórias sobre o espírito missionário.
Agência Folha - Alguns estudiosos divergem sobre a posição do padre Antonio Vieira em relação à escravidão negra. Ele se colocava contra o trabalho escravo?
Bresciani - Não tenho conhecimento de discursos do padre Vieira contra a escravidão dos negros, embora ele tenha falado várias vezes sobre os maus-tratos sofridos pelos escravos.
Agência Folha - Padre Vieira escreveu diversos sermões contra a escravidão de índios. Por que ele não fez o mesmo em relação aos negros?
Bresciani - Na época, o Brasil precisava de mão-de-obra, e a escravidão de negros era vista com normalidade. O mesmo não se aplicava aos índios, um povo que estava sendo obrigado ao trabalho escravo em sua própria terra.
Agência Folha - Por que a memória do padre Vieira é importante para brasileiros e portugueses?
Bresciani - Padre Vieira foi o maior orador de todos os tempos. Suas exortações são fundamentais para o conhecimento e a interpretação de um importante período de nossa história.

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