São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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PMs em conflito

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Este é um recorde nada honroso: nunca houve no país um movimento tão amplo dos efetivos das polícias militares reivindicando aumentos de salários.
No passado recente, até que ocorreram situações delicadas, como a verificada no final dos anos 70 no Rio, quando oficiais da PM invadiram o palácio então ocupado pelo governador Chagas Freitas e de lá só saíram depois de conseguir aumento.
Ou ainda os enfrentamentos ocorridos entre PMs e fuzileiros na Bahia.
O professor Jorge da Silva, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e UFF (Universidade Federal Fluminense), é um observador do assunto. Como coronel PM da reserva e integrante do grupo de trabalho sobre segurança pública da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, tem acompanhado com interesse a situação das PMs pelos Estados. E garante: com essa magnitude e envolvendo tantas unidades da federação, nunca se viu movimentação igual.
Na opinião de Jorge da Silva -que também pesquisa violência no programa de pós-graduação em antropologia e ciência política na UFF-, há duas certezas em relação aos fatos:
1 - há muitos anos os policiais militares ocupam a base da pirâmide social, em situação duplamente adversa. Primeiro, por estarem num agrupamento social que ganha mal, muito mal. Segundo, porque estão sujeitos a um conjunto de normas extremamente rigorosas, que exige disciplina e pune com prisão. Era óbvio, diz Silva, que um dia iria explodir;
2 - não se pode atribuir os movimentos atuais à falta de rigor ou de autoridade dos comandos. Silva lembra que, quando houve a invasão do palácio no Rio, tanto a PM quanto a Secretaria de Segurança eram comandadas por generais do Exército.
Uma conclusão natural a que se pode chegar a partir desse quadro: é fundamental que o tradicional espírito autoritário brasileiro não prevaleça e que o bom senso nas negociações se sobreponha à repressão pura e simples. Essa pode ser catastrófica.

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