São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Barril de pólvora

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Eram 18h de segunda-feira, dia 14, quando o telefone do gabinete do presidente Fernando Henrique tocou. Era o senador Guilherme Palmeira (PFL-AL). Segue o diálogo, confirmado pelos dois lados:
Palmeira: "Presidente, a situação de Alagoas é insustentável. É um barril de pólvora. Se você não agir rápido, não vai segurar depois".
FHC:"O secretário da Fazenda está com o Pedro Parente (interino da Fazenda) para ver o que é possível".
Palmeira: "Esse secretário está lá há 32 dias sem mover uma palha".
FHC:"O governador não ajuda".
Palmeira:"Isso não tem surpresa nenhuma. O problema é que Alagoas é um foco incontrolável e vai ser um exemplo para os outros Estados".
Dito e feito. A PM de Alagoas se uniu ao PT e aos funcionários públicos, sem salários há nove meses. O governador Divaldo Suruagy, que se recusava a negociar uma saída política, acabou sendo empurrado porta afora entre coquetéis molotov e tiros.
Há três meses, os três senadores do Estado combinaram com Fernando Henrique que ele poria o guizo no gato, pedindo a Suruagy que renunciasse. Na hora "H", FHC roeu a corda.
Depois, os senadores foram direto ao governador, num apartamento de Maceió, pressionando por uma licença. Resposta de Suruagy, que foi o recordista de votos no país (82%): "Vocês são loucos? Como é que vou sair daqui? Como incompetente, como corrupto, como ladrão?".
Ele saiu ontem, marcado indelevelmente com os três adjetivos que tanto temia e sem o atenuante de ter tomado a iniciativa. Sua chance de voltar é zero.
Espera-se, apenas, que não vá descansar nas Ilhas Seichelles, esquiar em Aspen ou morar em Miami.
Cumprida a primeira profecia de Palmeira, a segunda caminha a passos céleres. A insubordinação da PM, que começou por Minas, ganhou pólvora nova com Alagoas e alastra-se perigosamente por vários outros Estados.
Como dizia ontem o senador Esperidião Amin (PPB-SC), esse é "o fato mais grave desde a redemocratização do país". Não estava exagerando.

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