São Paulo, sábado, 19 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Interino ameaça deixar o cargo se não receber recursos federais

ARI CIPOLA
VANDECK SANTIAGO

ARI CIPOLA; VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA , EM MACEIÓ

Manoel Gomes de Barros afirma que 'não há santo' que resolva a crise estadual sem verba

Em seu primeiro discurso como governador interino de Alagoas, Manoel Gomes de Barros (PTB) afirmou que, se não receber ajuda imediata do governo federal, renuncia ao cargo e volta a criar boi e plantar cana na fazenda Jurema, de propriedade dele, em União dos Palmares (AL).
Barros fez a afirmação em assembléia de 70 dos 101 prefeitos que fizeram greve de um dia ontem por falta repasses do governo estadual (leia texto abaixo).
Barros assumiu o governo interinamente ontem, depois que o governador Divaldo Suruagy (PMDB) licenciou-se do cargo devido a revolta popular e tiroteio entre Exército e manifestantes, a maioria policiais civis e militares armados, que queriam o impeachment do governador, na véspera.
No final da tarde de ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso convocou Barros para uma reunião hoje no Rio.
A substituição de Suruagy por Barros não foi suficiente para convencer o Movimento Unificado dos Servidores Estaduais a suspender a greve geral, que paralisa serviços essenciais, como a segurança pública, desde a semana passada.
O próprio Barros afirmou que não era homem de "empurrar com a barriga os problemas de Alagoas", ao se referir à necessidade do Estado de receber verbas federais para quitar seus débitos trabalhistas com os servidores, sem salários há mais de seis meses.
"Sem o socorro do governo federal, não há santo nem doutor que resolva os problemas de Alagoas. Não precisa nem me tirar do cargo, eu mesmo saio", afirmou.
Barros estabeleceu um prazo de 20 a 30 dias para que comecem a chegar verbas federais no Estado.
"Não estamos querendo nada de graça. Pleiteamos uma antecipação de nossos ativos com a vendas das estatais. O governo federal parece disposto a ajudar. O presidente está se empenhando", afirmou.
Saldo
Barros está tentando conseguir R$ 120 milhões como primeira parcela antecipada da privatização da Ceal (Companhia Energética de Alagoas) e a liberação, via Caixa Econômica Federal, de R$ 165 milhões para pagar as indenizações de 14 mil servidores estaduais que aderiram ao PDV (Programa de Demissões Voluntárias).
Os R$ 120 milhões seriam suficientes para quitar quatro folhas salariais dos servidores, nos cálculos de Barros. Isso depende, porém, de aprovação pelo Banco Central do parecer do Ministério da Fazenda que é favorável ao empréstimo para quitar o PDV. Caso contrário, os 14 mil servidores retornam para a folha global do Estado, elevando seus custos.
Barros disse que é hora de aumentar a arrecadação do Estado. Além de pedir trégua aos grevistas, ele fez um apelo para que os empresários voltem a pagar impostos.
"Eu preciso de uma trégua, de um crédito de confiança dos servidores. Aproveito para pedir a confiança dos empresários. Minha prioridade é quitar os salários atrasados. Depois vêm o ajuste fiscal e o aumento na arrecadação."
Usineiros
Ligado aos usineiros e um dos maiores fornecedores de cana do Estado para o setor, Barros disse que está disposto a romper os acordos feitos pelo ex-governador Fernando Collor de Mello com os usineiros, desde que essa seja a exigência do governo federal.
"Vou tomar as medidas necessárias exigidas pelo governo federal. Acho mais prudente um solução negociada com as usinas, mas, se não for possível, eu rompo os acordos. Ache ruim quem quiser."
Sobre a volta de Suruagy ao cargo após a licença de seis meses concedida pelos deputados, Barros disse que "essa é uma questão de foro íntimo do governador".
O secretário de Fazenda, Roberto Longo, indicado pelo governo federal para a pasta na intervenção "branca" que completou ontem 34 dias, será mantido.

Texto Anterior: Exército envia mais tropas a AL, mas teme conflito com policiais
Próximo Texto: Entenda a crise do governo de Alagoas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.