São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
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M. trabalha por R$ 1 mil

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Em troca de R$ 1 mil semanais, M., 47, mudou-se do complexo de favelas do morro do Alemão (Bonsucesso, zona norte) para o morro do Borel (Tijuca, zona norte), onde passou a integrar a "tropa de defesa" dos traficantes da favela.
Preso na semana passada, com um fuzil automático novo, M. está na carceragem de uma delegacia da zona norte carioca, onde aceitou falar à Folha com a condição de que seu nome não fosse revelado.
M. disse que foi para o Borel a mando dos traficantes que passaram a controlar o Alemão depois da prisão de Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP.
"Há um grupo no Alemão que às vezes é tropa de defesa, às vezes é tropa de ataque. Depende de quem contrata, se quer se defender ou se quer atacar", afirmou o preso.
M. conta que estava desde maio no Borel, defendendo as "bocas" de cocaína e maconha que, segundo a polícia, são controladas por Agenor Mendes da Silva, o Genor.
"Fomos eu e mais oito em uma Besta, com os fuzis, pistolas e granadas emprestadas para o pessoal do Borel", disse M.
Desde que chegou ao Borel, M. afirma que rechaçou tentativas de invasão de quadrilhas de morros da região, como Casa Grande, Chácara do Céu, Borda do Mato e Andaraí.
M. conta que desde os 20 anos atua como "soldado" de traficantes dos subúrbios do Rio. "Prefiro atacar. Defender é complicado. Você fica esperando, esperando", disse ele.
M. afirmou já ter participado de invasões no Caju (zona norte do Rio), no complexo da Maré (zona norte), em favelas da zona oeste e em Duque de Caxias (município na Baixada Fluminense).
Segundo ele, no complexo do Alemão há "uns 50" traficantes que, em troca de dinheiro ou participação na venda de drogas, aceitam trabalhar para quadrilhas menos poderosas.
O termo usado nas favelas para designar um grupo de ataque é "bonde".
M. declarou que o "bonde" do Alemão costuma treinar tiros e táticas de combates na parte alta dos morros. "Pouca gente mora lá em cima. É mais fácil", disse.
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"Há um grupo no Alemão que às vezes é tropa de defesa, às vezes é tropa de ataque. Depende de quem contrata, se quer se defender ou se quer atacar."
M., 47, que atua como 'soldado' do tráfico carioca desde os 20
(ST)

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