São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
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MONTANHA-RUSSA

A Bolsa de Valores de São Paulo havia atingido, logo antes do início da montanha-russa das cotações, seu índice mais alto desde o final dos anos 70. Para o governo, teria havido apenas uma coincidência, talvez oportunista, entre a crise nos mercados asiáticos e a venda, por grandes investidores, de ações valorizadas, o que teria derrubado as cotações.
Apesar do horizonte de possíveis dificuldades, não estaria próxima a ameaça de ataques especulativos, com a consequente desvalorização do real. Ainda haveria tempo e meios para minorar os problemas das contas externas. No entanto, a explicação para a queda pode ser menos rósea do que a oficial.
Parece que, de fato, o Ibovespa estava extraordinariamente alto. Esse índice, determinado em grande parte pelas ações das grandes estatais, as preferidas de grandes investidores internacionais, subira 173% desde o começo de 96.
Um índice como o FGV-100, que registra as variações dos papéis de 100 empresas de segunda linha, subiu 51% no mesmo período. São os papéis de quem aposta, a longo prazo, na solidez econômica dessas companhias, fator que rege consideravelmente a valorização de suas ações.
Ora, não é razoável acreditar que as gigantes estatais tenham tido um desempenho tão superior ao das empresas do FGV-100. Pode-se supor, portanto, que a especulação levantou demais os índices das estatais -estaria na hora de vender essas ações.
A crise asiática teria chamado a atenção para a rigidez da política cambial e para o crescente déficit externo e feito os investidores repensarem a racionalidade da alta dos papéis brasileiros. A conjunção desse fator com a expectativa de crise futura seria um importante motivo da queda da Bolsa.
Parece não haver fundamentos objetivos para uma imediata, grande e continuada baixa nas cotações. No entanto, se de fato começar a firmar-se uma percepção de que as dificuldades brasileiras aumentarão progressivamente e se, concomitantemente, forem registradas novas e fortes baixas, a situação poderá de fato se tornar muito preocupante

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