São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
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San Marco carrega as marcas de Bizâncio

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DO ENVIADO ESPECIAL À EURÁSIA

"A paz esteja contigo, Marcos, meu evangelista. Aqui seu corpo deve repousar." A inscrição pode ser vista, em latim, no livro que o leão, símbolo de Veneza, segura.
A frase teria sido dita ao santo, numa noite em que ele abrigou-se na laguna, após passar por Roma.
As lendas em torno dessa visão de são Marcos estão na base da autonomia de Veneza em relação a Bizâncio, marcada, no plano religioso, pela rejeição de são Teodoro (patrono de Constantinopla) e a adoção do evangelista como o patrono da cidade.
Como quem procura cumprir um destino profético, os protovenezianos foram em busca dos restos de são Marcos.
Reza a história que o corpo do evangelista encontrava-se em Alexandria, no Egito, sob a guarda de muçulmanos. Em 828, dois mercadores, Buono Tribuno da Malamocco e Rustico da Torcello, teriam conseguido raptá-lo, levando-o ao doge.
A posse da relíquia, que reconciliava os venezianos com a transcendência, exigia a construção de um templo para abrigá-la.
Em 832, a primeira basílica de San Marco era consagrada. Destruída e reconstruída, foi sua terceira versão que perdurou como a base da catedral de hoje.
É ela um dos principais testemunhos histórico-arquitetônicos das relações que uniram e desuniram Veneza e Istambul. Ali estão mosaicos bizantinos, ali está à vista a influência oriental, ali estão, entre outras relíquias, os cavalos de bronze levados de Constantinopla.

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