São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
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Cidade velha promove viagem no tempo

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DO ENVIADO ESPECIAL À EURÁSIA

Se Istambul não é um modelo de ordenação urbana, não deixa de ser um lugar fácil para ocidentais, que às vezes imaginam a cidade como uma espécie de frenética Marrakech, com camelos, pedintes e mercadores espalhados por todos os cantos.
Já no percurso de táxi do aeroporto para a cidade, a visão do Bósforo, das mesquitas, dos prédios modernos, do trânsito confuso e da paisagem humana dão ao visitante a certeza de que não haverá grandes sobressaltos, mas algo especial está por vir.
Haverá exotismo, orientalismo, diferença, riqueza, suntuosidade e pobreza. Uma visão urbana que, livre da monumentalidade histórica, não será certamente estranha a nós, acostumados a grandes cidades de países subdesenvolvidos.
Istambul é uma dessas metrópoles, com seus 8 milhões de habitantes, cafés, restaurantes, edifícios e incríveis engarrafamentos. Mas é muito mais do que isso.
Pisar em suas ruas é passear sobre um palimpsesto (antigos pergaminhos com várias camadas de texto) cujos estratos remontam a 600 anos antes de Cristo, passam por Alexandre, por Roma, pelo islã, por inúmeras glórias e batalhas, momentos fulgurantes e trágicos.
Está-se visitando a capital de um império, cidade que divide geográfica e emblematicamente Europa e Ásia, centro estratégico e marcante da história universal.
As opções para o turista interessado em obras que testemunham o passado são magníficas.
As principais concentram-se na cidade velha, num conjunto arquitetônico -o Sultanahmet- capaz de levar o pensamento e o espírito a mundos intangíveis.
A começar pela monumental Santa Sofia (Hagia Sofia). A primeira visão do interior da catedral, erguida por Justiniano no século 6º, é de tirar o fôlego. Uma cúpula de 30 m de diâmetro e 55,60 m de altura apequena o visitante, que se vê flutuando numa imensidão imponente, virtualmente indescritível em sua capacidade de estimular estados interiores.
A Santa Sofia, desde o início catedral cristã, foi igreja de ortodoxos, latinos e, finalmente, mesquita, após a conquista turca de 1453.
Transformada em museu, é possível observar, hoje, em seu interior, a convivência de sinais desses períodos. Motivos islâmicos se sobrepõem a mosaicos bizantinos com imagens de Maria, Cristo e do imperador -que ali era coroado.
A igreja cristã ganhou minaretes e um novo altar, voltado para Meca. Nesse templo de tantos é fascinante o jogo de proximidades e distâncias entre os povos da cruz e do crescente, entre Oriente e Ocidente, Roma e Grécia, transcendência e vida terrena. Uma ótima porta para iniciar a viagem no túnel do tempo de Istambul.

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