São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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Recife adota 'toque de recolher' às 18h

XICO SÁ

XICO SÁ; FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Com medo de saque e quebra-quebra, lojistas decidem fechar mais cedo; sertão também vive pânico

A cidade de Recife vive um toque de recolher informal. O Clube dos Diretores Lojistas recomendou ontem que o comércio fechasse às 18h, para evitar saques e roubos. A maioria das lojas nem esperou o início da noite, encerrando o expediente entre as 16h e 17h, por precaução.
Desde domingo, restaurantes e a maioria dos bares passaram a fechar logo no início da noite, por temor de quebra-quebra, saques e assaltos. Os donos estão assustados com o aumento da violência devido à greve dos policiais.
Muitos supermercados na região metropolitana de Recife também já adotaram, desde o último sábado, o horário máximo das 18h.
O clube dos lojistas contratou ontem uma equipe inicial de 30 seguranças. Acompanhados de cães, eles se juntaram aos soldados do Exército na proteção do comércio.
A rede de farmácias de Recife e cidades vizinhas também é alvo de assaltos e depredações. Segundo o Sindicato das Farmácias de Pernambuco, pelo menos 30 foram assaltadas de domingo até ontem.
O cenário nas ruas centrais parecia o de uma capital sob ameaça de guerra. Helicópteros do Exército sobrevoando a área ajudavam a compor a imagem da confusão.
Segundo informação da Associação dos Oficiais da Polícia Militar, até as tropas do Exército, que estão nas ruas, foram vítimas do caos que tomou conta de Recife.
Um bando de homens armados e encapuzados teria rendido soldados do Exército anteontem, numa estação de metrô, levando quatro fuzis, duas pistolas e dois carregadores. O Exército disse que, até a tarde de ontem, ignorava o caso.
O número de homicídios também cresceu em relação às últimas semanas. A prefeitura contabilizou 15 homicídios na noite de domingo e madrugada de ontem, contra uma média normal de 8.
Mas o número pode ser maior, pois o serviço de estatística funciona precariamente nos últimos seis dias, devido à greve dos policiais.
No sertão de Pernambuco, o terror também tomou conta de cidades e estradas. Ladrões formaram barricadas e assaltaram ônibus que fazem linha para São Paulo.
Essa prática é antiga, mas não nas proporções registradas de domingo até ontem. Ocorreram 22 assaltos a ônibus nesse período. Normalmente, comboios da PM acompanham os ônibus.
O governo de Miguel Arraes (PSB) também foi vítima da crise. Dois homens renderam o motorista e levaram um carro que serve ao secretário de Imprensa do Estado.

Colaborou Fábio Guibu, da Agência Folha, em Recife

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