São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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Empresa pára e expõe crise da prefeitura

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A empresa de ônibus Royal Bus, que transportava diariamente cerca de 50 mil passageiros em 11 linhas na zona norte, encerrou ontem oficialmente suas atividades e expôs mais uma fragilidade da Prefeitura de São Paulo.
Segundo um dos representantes da empresa, o advogado Antonio Russo Filho, a SPTrans (empresa gerenciadora do transporte público no município) acumulou uma dívida de R$ 4,5 milhões com a Royal Bus. "Para quem fatura R$ 1 milhão por mês, essa dívida simplesmente inviabiliza a continuidade dos serviços", afirma Russo.
O presidente da Transurb (sindicato das empresas de ônibus), Maurício Lourenço da Cunha, diz que outras empresas podem fechar em decorrência da omissão.
Segundo o sindicato, a prefeitura deve mais de R$ 100 milhões às empresas de ônibus. A prefeitura reconhece uma dívida de R$ 8 milhões com as empresas, que já teria sido quitada na semana passada.
"Existe uma diferença gritante entre o custo por passageiro estabelecido pela prefeitura (R$ 0,98) e o valor repassado às empresas (R$ 0,85)", aponta Cunha.
O custo por passageiro foi calculado pela própria prefeitura, em documento apresentado à Câmara Municipal justificando o aumento da tarifa de ônibus na cidade de R$ 0,80 para R$ 0,90.
O aumento foi aprovado pelos vereadores e vigora desde junho. Até então, a prefeitura repassava às empresas o valor integral da passagem e mais um subsídio de R$ 0,05 por passageiro.
"Com uma tarifa de R$ 0,80 a SPTrans nos pagava, com atraso, R$ 0,85 por passageiro transportado", explica Cunha. "Daí constatou que cada passageiro custa R$ 0,98, mas passou a cobrar apenas R$ 0,90, deixando conosco todo o prejuízo e a imagem negativa."
Dois pesos
O custo por passageiro transportado é calculado pela prefeitura para estabelecer o valor da tarifa e a quantia a ser repassada às empresas. São usados como base de cálculo o custo de operação, despesas com pessoal e manutenção, além de uma pequena remuneração de capital.
Ocorre que a prefeitura trabalha com dois valores diferentes. Um para justificar o aumento da tarifa e outro para remunerar as empresas prestadoras de serviços, que "alugam" seus ônibus à SPTrans.
Essa diferença está sendo reivindicada pela Transurb na Justiça.
A situação dos 580 funcionários dispensados é incerta. O secretário dos Transportes, Carlos de Souza Toledo, em reunião ontem com uma comissão de motoristas e cobradores, afirmou que pedirá às empresas "prioridade" para recontratar os demitidos.

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