São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova onda de calote reduz lucro de lojas

Queda pode alcançar até 40%

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova onda de calote do consumidor, principalmente desde maio, está corroendo o lucro das grandes redes de lojas.
Empresas consultadas pela Folha prevêem para este ano redução de até 40% no lucro, em grande parte devido à inadimplência.
A situação, que já era preocupante no primeiro trimestre, piorou no segundo, cujos números consolidados ainda não estão disponíveis.
Os dados até março são conhecidos. Pelo menos três redes -Arapuã, Ponto Frio e Lojas Americanas- contabilizaram juntas perda de R$ 80 milhões com o calote.
Em igual período do ano passado, deixaram de receber R$ 34 milhões, segundo os balancetes.
A tendência reflete o aumento da venda financiada, que cresceu ainda mais do que a inadimplência. Enquanto esta mais do que dobrou no período, aquela chegou quase a triplicar, no caso das três redes.
Para os comerciantes, a comparação não consola. Eles dizem que o nível de inadimplência está próximo de níveis recordes.
"Não dá para negar. A inadimplência aumentou no segundo trimestre e está afetando os balanços", diz João Alberto Ianhez, diretor da Arapuã.
No primeiro trimestre, a Arapuã deixou de receber dos crediaristas R$ 31,5 milhões -8% das suas vendas líquidas. Esse percentual foi de 4% em igual período de 1996.
Na Globex (Ponto Frio), a perda de cerca de R$ 37,8 milhões nos primeiros três meses do ano representou 7,7% das vendas a prazo. Esse percentual foi de 5% nos primeiros três meses do ano passado.
Na Lojas Americanas, o calote de R$ 9,8 milhões significou 4% da venda financiada. Representou 3% em igual período de 1996.
Márcio Garcia de Souza, diretor financeiro da Americanas, diz que, como consequência, a rede está agora bem mais rigorosa para liberar o crédito.
"Passamos a cobrar juros e a consultar mais os cheques recebidos." A inadimplência, que subiu de 3,5% para 4% de janeiro a março, diz, já deve ter caído para 3%.
A Lojas Cem informa que a perda mensal da rede é da ordem de R$ 800 mil desde o início do ano. Esse valor representa 3,5% da sua venda a prazo.
Calote e juros
A empresa chegou a perder mais, R$ 1,2 milhão por mês no primeiro semestre de 1996. Mesmo assim, considera alto o calote atual, informa Natale Dalla Vecchia, diretor.
"É por isso que não vemos possibilidade de reduzir os juros -que estão por volta de 6% ao mês, incluindo o IOF."
Dalla Vecchia aposta que a inadimplência se mantém alta e deve contribuir para uma redução de 30% a 40% no lucro realizado pela empresa, neste ano, sobre o de 1996.
A rede de lojas Bernasconi, que tem a mesma previsão de redução do lucro, informa que enfrenta atualmente o pico da inadimplência -o atraso do pagamento acima de 30 dias representa 3% da venda financiada.
"Os salários não subiram e aumentou o desemprego. Assim, o consumidor se enroscou para pagar as prestações", diz Luvirto Bernasconi, diretor.
Ele conta que, para diminuir o risco da inadimplência, a rede decidiu reduzir de 30% para 25% a participação do salário na prestação do consumidor.
As várias medidas que estão sendo colocadas em prática pelas redes para diminuir a inadimplência são extremamente necessárias, na análise de Tadao Inoue, analista de investimento do Lloyds Asset Management.
"A inadimplência começou a afetar mais expressivamente o lucro das empresas desde maio", diz.
A queda no ritmo das vendas, continua ele, também vai contribuir para reduzir o ganho das redes -especialmente de eletroeletrônicos.

Texto Anterior: Futuros mantêm 'otimismo moderado'
Próximo Texto: Camelô ganha R$ 500 por mês e paga dívida com atraso
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.