São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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"Fuck you", diz MTV para a ética dos jovens

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, em nome do bom, justo e alegre nome do Dodô (que Zagallo deve convocar hoje), certos setores da mídia já começaram a fritar, na gordura do ressentimento (que, aliás, mata), o Romário.
Calma lá, rapaziada, que prato bom não se come na véspera. O apressado come cru.
Ok, o velho Lobo do fut Zagallo está zangado com o atacante -que, tudo indica, andou se comportando mal no episódio não totalmente esclarecido da sua contusão na Copa América. E o velho Lobo, como se sabe, não é de relevar facilmente (fato que, de fato, mostra que Zagallo não tem a superioridade necessária dos grandes líderes, mas isso é tema para uma outra conversa).
Ok, Romário também oscilou mais para baixo do que para cima na longa jornada da seleção brasileira que saiu do Velho Mundo para fazer a (Copa) América.
(Mas não se esqueça de que o Ronaldinho também ficou no saldo devedor nesse período.) São, portanto, dois fatores suficientes (e até compreensíveis) para que ele não esteja hoje na lista do velho Lobo do fut.
Mas isso não significa que Romário, daqui para a frente, deva se transformar em apenas doces recordações para a seleção brasileira.
Em primeiro lugar, Romário é maior do que jogou nesse período e, em boas condições físicas, está ainda entre os cinco melhores de todo o mundo.
Em segundo, Romário tem experiência, é de uma frieza impressionante na hora de decidir, e todo zagueiro e técnico adversário se preocupam com ele. Fatores que, isolados, já justificariam a sua presença em Copa do Mundo, um evento onde a tradição, a cor da camisa e o peso de alguns jogadores contam muito.
Em terceiro, Romário, menos veloz, mas mais técnico do que nunca, mostrou que tanto pode jogar dentro da área quanto na criação, na preparação, na articulação das situações de ataque da seleção.
É falsa, artificial e movida por aqueles que, por motivos morais (o jornalismo é uma profissão moralista, em vários sentidos, mas o moralismo da imprensa esportiva costuma ser o do pior sentido) e não futebolísticos, querem Romário fora da seleção, o exclusivismo entre Romário ou Dodô.
Em certas conjunturas, não seria quixotesco pensar até em um cenário tático que, em vez de excluir, inclua Romário e Dodô no mesmo alinhamento.
Já pensou em um trio Dodô Ro-Rô? Ou Ro-Rô Dodô? Ou Ro-Dodô-Rô? No meu desejo infantil, que a psicanálise do dr. Freud e do dr. Tostão explica muito, eu prefiro incluir a excluir. Ah, como seria bom!
*
Quer dizer então que a MTV está patrocinando o Fluminense? Esfreguei os olhos, belisquei-me três vezes para ver se eu estava acordado.
Sim, o logo do canal do sonho de milhares de adolescentes de todas as idades estava ali, na contracapa do time sem legitimidade no Brasileiro.
Eu entendi bem? O marketing da emissora é associar a sua imagem à violação de princípios, à negação da cidadania, ao obscurantismo?
A MTV diz um sonoro "fuck you", expressão que está o tempo todo em seus clipes, para a cidadania dos jovens.

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