São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Homem e a Moda

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

"Fosse outro o resultado da Revolução Francesa, outra certamente seria a forma das calças que usamos". Fernando de Barros, no livro "Elegância"

Virou coisa de homem. E até de homem brasileiro, que tira no desinteresse pelo assunto a medida de sua masculinidade.
Na verdade, tirava.
Com a globalização e a abertura dos escritórios brasileiros às nações amigas e a maior necessidade de viajar e de fazer negócios e contatos com executivos do exterior, o homem brasileiro passou também a ter de se preocupar com a linguagem de suas roupas.
Para os um pouco mais informais italianos ou para os um pouco mais formais ingleses, o estilo das roupas é uma questão de identidade cultural -que conseguiram exportar.
Hoje, o mundo inteiro veste ternos e gravatas italianas, camisas e sapatos ingleses, mas sem ter muita noção da maneira pela qual esses elementos de estilo devem ser combinados.
Além de circular mais pelo mundo, há um "boom" de importantes marcas estrangeiras oferecendo aqui mesmo cortes, cores e tecidos que deixam o até agora conservador homem brasileiro à beira de um ataque de nervos.
A roupa comum de cada dia, da noite para esse mesmo dia, foi desestruturada no encontro dos dois processos: uma multiplicidade de oferta que aparece para um homem culturalmente despreparado, mas que precisa vestir a camisa desse novo mundo em que vive e trabalha.
"O pensamento do homem brasileiro estava em outras coisas, na própria sobrevivência diante da inflação. Não dava para ele pensar na escolha das roupas. Agora, estamos vivendo o renascimento do homem brasileiro", disse à Folha Fernando de Barros, que acaba de lançar o livro "Elegância - Como o Homem Deve se Vestir".
Fernando, um homem do cinema e do teatro, editor de moda da "Playboy", colhe com a repercussão do seu livro os frutos de muitos anos em que viveu como uma espécie de Simão pregando no deserto: procurando ensinar o homem brasileiro a se vestir.
Trata-se do livro certo, escrito no tom certo pelo homem certo e, importantíssimo, que sai, como se vê, na hora certa.
Além de informações e comentários sobre a história das roupas e das sugestões do que e quando vestir, Barros faz uma lista de lugares onde encontrar uma boa oferta de roupas masculinas.
Nesse sentido, o seu livro aproxima-se do de um autor importante para a elegância masculina, o americano Alan Flusser, autor do clássico "Clothes and the Man", que lançou o seu terceiro livro, "Style and the Man - How and Where to Buy Fine Men's Clothes" (Estilo e o Homem - Como e Onde Comprar Boas Roupas Masculinas).
(O livro de Alan Flusser concentra-se mais nas indicações de endereços, o de Fernando de Barros, nos conselhos de estilo).
Preocupar-se com a roupa é apenas uma questão de vaidade?
Sim e não. Para algumas pessoas, aprender a se vestir representa uma maneira de adquirir autoconfiança, de se sentir mais seguro, mais integrado à sociedade, portanto, mais confortável para desempenhar melhor o seu trabalho e as suas atividades.
Para outros, é uma determinação profissional (companhias que exigem um padrão de vestimenta, profissões que se identificam com roupas mais personalizadas etc).
Para outros ainda é uma questão de identidade cultural. E, por que não, também é uma questão de amor próprio e de vaidade, que não é o pior dos pecados humanos (pode-se ser vaidoso e honesto, bom caráter, generoso...).
Preocupar-se com roupas não é uma preocupação frívola. Na história das roupas, está a história e o caráter de uma sociedade.
Alguns importantes artistas, como os futuristas, por exemplo, dedicaram parte da sua obra à confecção de roupas inovadoras.
Bons escritores (só para citar alguns, Balzac, Roland Barthes e Umberto Eco) escreveram sobre as roupas. Isaac Deutscher, na sua monumental biografia de Trótski, diz que o revolucionário do Exército Vermelho gostava de se vestir bem.
Nas primeiras linhas de um livrinho lançado em Barcelona em 1832, do qual Mendez & Molina Editores fizeram edição fac-similar, lê-se: "Nenhum dos mais assíduos concorrentes ao passeios públicos, nenhum filósofo, por mais rígido e intolerante que seja, pode pôr em dúvida a utilidade deste 'Arte de Colocar a Gravata'".
Elegância é uma coisa. Vestir-se bem, outra. (Fernando de Barros: "Estar bem vestido é uma questão de informação. Ser elegante é uma questão de educação").
Estar na moda, outra ainda inteiramente diferente. Pode-se se vestir bem sem ser elegante, pode-se estar na moda sem vestir-se bem nem estar elegante.
Balzac dizia que o desleixo no vestir é um suicídio moral. Mas as regras sugeridas por esses livros não são obrigatórias. Só os sem imaginação ou muito conservadores prendem-se ao pé da letra das convenções da elegância.
Para além das regras, existe o estilo pessoal e a personalidade de cada um. O conhecimento das regras da elegância, no entanto, tem a mesma contribuição saudável que o conhecimento das normas da língua tem para um grande poeta: quem as conhece bem pode transgredi-las naturalmente.
Afinal de contas, lembre-se que o presidente francês Paul Deschanel, o rei Eduardo 2º, da Inglaterra, e o playboy Griswold Lorillard só entraram para a história do estilo masculino porque foram elegantes quebradores de regras.
O primeiro, em 1901, vestiu fraque em vez de casaca no seu casamento; o segundo, por usar ternos xadrez; e o terceiro, por ter aparecido em uma festa no Tuxedo Park Club, em 1866, usando o primeiro smoking dos EUA -país que, curiosamente, adotou não o nome da roupa ou de quem a vestia, mas o do clube."
É o único lugar do mundo onde o smoking virou "tuxedo".

Livro: Elegância - Como o Homem Deve se Vestir
Autor: Fernando de Barros
Lançamento: Negócio Editora
Quanto: R$ 32,30 (162 págs.)

Livro: Style and the Man - How and Where to Buy Fine Men's Clothes
Autor: Alan Flusser
Lançamento: Harper Collins
Quanto: US$ 24 (400 págs.)

LEIA MAIS sobre Moda à pág. 4-10

Texto Anterior: Omar Shariff se casa com filha de milionário; Pavarotti admite que não lê música; Madrid relembra "O Amor Bruxo"
Próximo Texto: Sapato preto é pedra no sapato do brasileiro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.