São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 1997
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MST invade área da GM e policiais aplaudem

CARLOS ALBERTO DE SOUZA

CARLOS ALBERTO DE SOUZA; LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GRAVATAÍ

Cerca de 800 agricultores tomaram terreno desapropriado para instalar a montadora e exigem R$ 38 mi para a reforma agrária

LÉO GERCHMANN
Agricultores ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram às 7h de ontem a área de 370 hectares desapropriada pelo governo do Rio Grande do Sul para implantação da montadora da GM (General Motors), em Gravataí (região metropolitana de Porto Alegre-RS).
A invasão ocorre a três dias das manifestações que vão marcar o Dia do Trabalhador Rural nas principais capitais do país. O protesto tem apoio da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do MST, entre outras entidades.
Os agricultores -pequenos proprietários e assentados- reivindicaram, para deixar o local, 15% dos recursos adiantados pelo Estado à GM, ou seja, R$ 37,9 milhões sobre os R$ 253 milhões concedidos à multinacional.
O MST disse que o dinheiro seria usado na infra-estrutura dos assentamentos (5%) e para créditos subsidiados (10%). "Enquanto a agricultura geme, o Britto (governador Antônio Britto-PMDB) dá dinheiro para a GM", estava escrito em uma das faixas colocadas na entrada do acampamento montado pelos agricultores, que disseram ser em número de 800. Eles empunhavam foices e paus.
A área, à margem da BR-290, foi cercada por cerca 500 PMs, incluindo soldados do pelotão de choque e do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) com cães, armamentos pesados e bombas.
O governador, que no final da manhã recebeu dirigentes da GM no Palácio Piratini (sede do Executivo) em uma visita que já estava agendada, pediu reintegração de posse da área e disse que não negociaria com os invasores.
Britto disse que a invasão faz parte de um "calendário de oportunismo", que reservaria mais surpresas. "Era de se prever que os nossos simpáticos meninos do PT não assistiriam a tanto desenvolvimento sem tentar atrapalhar."
Às 17h30, o prefeito de Gravataí, Daniel Bordignon, levou ao acampamento a notícia que a juíza da cidade, Glaucia Morandini, havia concedido prazo de 48 horas para a retirada dos agricultores.
Com a decisão, os soldados do pelotão de choque deixaram a área. No momento da retirada, cerca de 15 aplaudiram os invasores. Na área, continuam 60 policiais. A categoria reivindica melhores salários no Estado.
O governo gaúcho sabia com antecedência que haveria a invasão. O secretário do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Nelson Proença, avisou ontem o prefeito de Gravataí, Daniel Bordignon (PT), sobre a intenção dos agricultores em invadir a área.
Os agricultores disseram não ter interesse em permanecer na área. Eles disseram que a invasão do local foi uma estratégia para reivindicar recursos para a agricultura e forçar uma audiência com Britto.
O governo gastou R$ 8 milhões para indenizar os donos de glebas existentes na área. A GM deve começar a terraplenagem em agosto.
Outras invasões
O presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Milton Seligman, cobrou ontem do MST o fim das invasões aos prédios do órgão para viabilizar hoje a reunião marcada com os líderes da entidade.
Diretores do Incra foram deslocados para Marabá, Fortaleza, Porto Velho e Cuiabá para tentar uma solução pacífica às invasões.
Em São Paulo, os 600 sem-terra que saíram anteontem de Sorocaba (87 km a oeste de SP) chegaram ontem a Itapevi (a 37 km). Eles caminham para a capital do Estado, onde na sexta fazem um protesto.
Outro grupo percorreu cerca de 50 km na via Dutra em dois dias e deve chegar hoje a Guarulhos.

Colaboraram a Sucursal de Brasília, a Reportagem Local e Folha Vale

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