São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 1997
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União com policiais já divide a CUT e o PT

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

A união política com o movimento grevista dos policiais já começou a dividir a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o PT.
Parte dos dirigentes da central sindical e do partido em Pernambuco vêem com desconfiança a convivência tanto com a Polícia Militar como com a Civil.
Segundo a Folha apurou, a principal dúvida de sindicalistas e petistas é a seguinte: será que estes policiais vão deixar de bater em grevistas de outras categorias?
O deputado federal Humberto Costa (PT-PE), influente na CUT regional, tem alertado a central sobre o assunto. Tem dito que a greve dos policiais não tem o menor conteúdo político, sendo apenas um movimento por salário.
"Basta a polícia receber o que está pleiteando para voltar a bater e desrespeitar grevistas", diz. "Vai ficar a serviço de quem sempre esteve e não podemos nos iludir com isso."
Costa defende até que o partido e a CUT ajudem no processo de negociação com os governos estaduais, devido ao risco que a greve leva à população, mas o engajamento deveria parar por aí.
'Rebelião'
"Greve de gente armada não é greve, é rebelião", diz.
O tema tem dividido os dirigentes nas reuniões da CUT e será motivo de debate ainda esta semana.
Alguns sindicalistas da central em Pernambuco avaliam que o presidente da entidade, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, empolgou-se demais na defesa dos policiais que decidiram entrar em greve sexta-feira em São Paulo.
A CUT tem dado apoio logístico à Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar de Pernambuco, que comanda o movimento de greve no Estado.
Sindicatos ligados à central cederam carros de sons aos policiais grevistas e acenaram também com a possibilidade de doar recursos caso a paralisação se prolongue por mais alguns dias.
Motivo de polêmica permanente também entre os policiais militares, o "namoro" atual com sindicalistas da CUT é visto ainda com desconfiança.
Oportunismo
Em outros Estados, segundo informações apuradas junto à Associação de Cabos e Soldados em Recife, a polêmica também persiste.
Para alguns membros da associação, a greve tem servido para mudar politicamente a "cabeça" de muitos militares, que vivem a primeira experiência de paralisação dos seus serviços.
Jargões da esquerda
Em seus discursos, cabos e soldados que lideram as manifestações já adotaram jargões típicos da chamada esquerda.
Eles tratam os militares por "companheiros" e sempre repetem expressões como "a luta continua" e "até a vitória".
A trilha sonora é sempre marcada por "Caminhando", canção de Geraldo Vandré.

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