São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 1997
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Motta pode fazer governo "levar ferro" diz pefelista

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso foi avisado pelos líderes governistas de que as declarações do ministro Sérgio Motta (Comunicações) contra aliados causou estragos na base governista e vai dificultar a aprovação das reformas constitucionais.
"Ninguém pode imaginar o estrago. Ele (Motta) isolou o governo. Se tivesse votação nesta semana, o governo levaria ferro", afirmou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), em conversa por telefone com FHC, às 17h30 de ontem.
O presidente procurou acalmar Inocêncio, afirmando que teve uma conversa "dura" com Motta e que teria "proibido" o ministro de dar declarações sobre aliados do governo. Inocêncio achou pouco. Esperava um pronunciamento público do presidente sobre o fato.
O presidente ligou para o líder do governo na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), à tarde, e disse que repreendeu Motta. "Não vou aceitar mais isso. Você está me causando constrangimento", teria dito FHC ao ministro, no Palácio da Alvorada anteontem à noite.
Na conversa com o presidente, Inocêncio disse que recebeu telefonemas de três governadores e vários deputados que pediram providências suas contra Motta. Informou, ainda, que o governador Amazonino Mendes (AM) e deputados do Norte estão redigindo nota de repúdio ao ministro.
"O Serjão passou dos limites. Ele desarrumou toda a base governista. As declarações foram inadequadas e no momento mais inoportuno possível", afirmou o líder do PFL ao presidente.
Inocêncio disse que Motta atacou aliados num momento em que o governo havia obtido vitórias importantes, como a quebra da estabilidade e a renovação do FEF.
O líder do PFL também destacou mais dois aspectos negativos das declarações de Motta. "Ele enfraqueceu o ministro Iris Rezende, que está negociando com as PMs, e o ministro Pedro Malan, que precisava ser fortalecido para enfrentar os problemas causados pela crise dos Tigres Asiáticos."
A cúpula do PMDB reagiu com mais tranquilidade, mas decidiu adiar para a próxima semana o encontro que teria ontem para tratar do possível apoio a FHC na sua campanha pela reeleição.
"Achamos melhor aguardar uma semana, para ver os desdobramentos", afirmou o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Ele disse que ficou satisfeito com as explicações dadas pelo presidente ao partido.
"O presidente disse que desautorizava o ministro, que está satisfeito com os ministros do PMDB. Isso é o que importa."
Sobre a acusação de que o partido não deu os votos que o governo esperava, após as nomeações de Eliseu Padilha e Iris Rezende, Geddel respondeu com ironia: "Não imagino que o presidente tenha essa visão fisiológica, de trocar ministros por votos."
O desfecho da crise deixou uma dúvida na cabeça de alguns líderes governistas. Eles se perguntavam por que FHC não demitiu Motta.

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