São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 1997
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Uma presença nova

JANIO DE FREITAS

Embora as insurgências das polícias militares continuem tratadas, pelo governo e pelos meios de comunicação, como movimentos estaduais mutuamente estimulantes, mas separados uns dos outros, a novidade mais importante desse rastilho é exatamente a conexão de suas partes em uma estrutura nacional, sempre ambicionada e não alcançada pelas centrais sindicais.
Pelo menos em termos potenciais, essa estrutura se mostra como uma força nova, pela combinação de peculiaridades operacionais e armas, na divergência entre o conservadorismo nas questões sociais e econômicas e os movimentos pró-mudanças. Se a estrutura e sua amplitude são apenas episódicos, incapazes de sobreviver à atenuação de suas causas em vários Estados, vai depender, ao que por ora parece, menos do próprio movimento que do tratamento dado ao problema pelos governos estaduais e federal.
É suficiente a constatação da amplitude estruturada, porém, para perceber um risco que merece atenção: a ocorrência de um choque armado, como chegou a começar em Alagoas e continua por um triz em outros Estados, pode desencadear outras conflagrações de gravidade imprevisível.
Nesse sentido, a figura mais relevante na prevenção do risco é o ministro do Exército. O general Zenildo Lucena tem sido um ministro exemplar, pela serenidade firme com que introduziu e mantém no Exército o comportamento de fato e apenas militar, preservando ele próprio uma atitude de simpatia pública e distância política. Já precisou, nestes dias, conter alguns ímpetos de comandados seus. Se faltar com a continuidade de tal providência, até um incidente bobo pode tomar o efeito de um estopim cheio de longas ramificações.
Ninguém está preparado para enfrentar situação que se complique mais do que a atual. Nem mesmo as Forças Armadas.

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