São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 1997
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Novo Zagallo descarta velhas idiossincrasias

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Boas novas, as convocações de Rivaldo, Juninho e Ânderson. Um sinal de que o novo Zagallo não voltou a cultivar velhas idiossincrasias. A não ser, claro, que as tenha apenas transferido para Giovanni, Djalminha e Romário.
Mas o diabo -ou, melhor: o divinal- é que estamos em plena floração de uma safra generosa de talentos, do meio-campo em diante. E seleção brasileira é um monstro implacável que devora craques com a mesma rapidez e voracidade com que os consagra. Quem bobear dança, pois atrás vem gente -e que gente!
Que fazer? Rivaldo é a melhor resposta: de titular absoluto até a Olimpíada, quando sofreu súbito e vertical declínio, não se deixou abater com a longa ausência da seleção (tão longa que parecia definitiva). Meteu bronca no La Coruña, e cavou, no campo de jogo, seu passaporte para a Ásia.
Que Rivaldo seja o espelho de Giovanni.
*
Como dizia aquele personagem do Chico Anísio, inventor inventa, jogador joga. Pois Giovanni tem que jogar.
No Barcelona daquele inglês patético, Giovanni não jogava. Isto é: não entrava em campo, a não ser por alguns minutos. Por isso perdeu o ritmo -não apenas o de jogo, mas o interior, que determina o tempo exato das ações e reações.
Não sei o que lhe reserva o holandês Van Gaal, que passa a impressão de amante do futebol jogado com arte e engenho, atributos indiscutíveis de Giovanni. Mas algo me diz que Giovanni carece de um retorno imediato ao Brasil -nem que seja temporário- para reencontrar seu eixo, se me permite o ínclito senador Suplicy.
E, de preferência, para um clube como o São Paulo, onde moram a paciência e o equilíbrio. Mais do que ninguém, se eu fosse presidente do Barça, faria tal negócio -o melhor investimento para valorizar seu investimento.
*
E Dodô? Não vamos falar de Dodô, a grande sensação do momento, que, pelo jeito, vai mesmo formar a dupla de ataque titular com Ronaldinho?
Faço minhas as palavras do sensato pai desse menino artilheiro, colhidas outro dia numa rápida entrevista na Pan: "Ainda é cedo para uma convocação. Mas, se vier, vamos agarrá-la".
É cedo mesmo. E não me venham com o exemplo de Denílson, três ou quatro anos mais jovem do que Dodô. Não se trata de idade. Mas de circunstâncias. Denílson, quando foi chamado, para compor o grupo, como se diz por aí, era titular do São Paulo havia dois anos. Chegou sem grandes expectativas por parte da mídia. Esquentou banco. Quando entrou, foi mais por falta de opções (os titulares faziam água). Cabeça fresca e talento imenso naquele mágico pé esquerdo e pronto!, eis o sucesso.
Já Dodô chega pra encerrar o ciclo de Romário na seleção, na visão equivocada de muita gente boa. Logo Romário...
E mais: o goleador, como o goleiro, caminha naquele fio de navalha -a risca do gol- uma linha tênue que separa a glória do fracasso.
Assim, mais ajuizado seria começar com Ânderson, enquanto Dodô sente o peso da camisa no banco, à espera do tempo certo.

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