São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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As reservas em alta

CELSO PINTO

O Brasil poderá fechar este mês com um aumento de reservas superior a US$ 2,5 bilhões. No conceito de caixa, as reservas, que somavam US$ 56,8 bilhões ao final de junho, podem ficar em torno de US$ 59,5 bilhões.
O resultado impressiona, especialmente considerando as circunstâncias. Nas últimas semanas, houve a crise monetária asiática e a forte queda nas Bolsas brasileiras. Mesmo assim, até o dia 15, as reservas haviam subido US$ 1,9 bilhão.
A entrada de dólares pelo câmbio financeiro pode ser recorde. Até quarta-feira, entraram US$ 8,8 bilhões em várias formas de captações financeiras, por empresas e bancos, e investimentos diretos. Se o ritmo for mantido até o final do mês, poderá chegar ao recorde de US$ 11,4 bilhões. Em junho, o ingresso havia sido de US$ 9,2 bilhões.
Um grande banco estrangeiro conseguiu identificar US$ 5,8 bilhões em recursos a ingressar, entre várias emissões de bônus e algumas privatizações como a banda B e a companhia de gás do Rio de Janeiro. Além dessas entradas, existem outras captações que não aparecem na conta do câmbio financeiro, mas engordarão as reservas, como a emissão da República em libras esterlinas.
As entradas estão altas, mas as saídas também estão altas. Até quarta-feira, as saídas financeiras eram de US$ 3,2 bilhões, projetando um total de US$ 7,2 bilhões em julho (comparado a US$ 7,6 bilhões em junho). No câmbio comercial, exportações menos importações, o buraco já está próximo a US$ 1 bilhão e pode chegar a US$ 1,3 bilhão.
Além disso, pelo outro mercado cambial, o flutuante, as saídas também estão fortes. Pelo flutuante saem muitos dólares investidos aqui em renda fixa, além de despesas com turismo e cartões de crédito no exterior. Até quarta-feira, saiu US$ 1,1 bilhão e o total pode chegar perto de US$ 1,5 bilhão no mês.
Somando entradas e saídas pelos dois mercados de câmbio, mais entradas que não passam por esses mercados, a entrada líquida, que engorda as reservas, pode chegar a US$ 2,5 bilhões.
Nada mau, para um mês complicado. A crise asiática gerou nervosismo nos mercados. Os prêmios pagos por títulos de países emergentes, inclusive do Brasil, subiram algo entre 40 e 60 pontos básicos de porcentagem. A Argentina, por exemplo, achou mais prudente cancelar o lançamento de um bônus global de US$ 750 milhões, que aconteceria em meio à incerteza asiática.
A queda nas Bolsas do Brasil aconteceu, em grande medida, pela correção de um mercado que havia subido demais, conjugada a um sentimento geral de mais cautela. Certamente a queda foi ampliada, em muito, pelo fato de muitos investidores estarem altamente alavancados.
Traduzindo: muita gente tinha posições gigantescas comprando opções e desembolsando apenas uma fração do valor dos negócios. Quando aconteceu uma queda mais forte, foi preciso cobrir a margem de perda nas opções e muitos não tiveram outra saída exceto vender papéis para fazer caixa.
O pior, contudo, foi absorvido. Contou muito a gigantesca liquidez internacional, conjugada com o enorme apetite por papéis de maior rentabilidade. Ajudou também, no caso do Brasil, a sinalização do Banco Central de que está disposto a manter juros altos ou elevá-los ainda mais, para manter a atração dos dólares.
Nada disso elimina as dúvidas sobre o Brasil a médio e longo prazo, cuja discussão ficou mais sensível depois da crise asiática. O Brasil precisa de muito dinheiro, depende crucialmente das privatizações para fechar suas contas e isso exige um mercado internacional calmo e confiante durante vários anos.
Apesar de toda a entrada financeira, empréstimos e financiamentos de longo prazo não devem superar US$ 28 bilhões neste ano. Parece muito, mas como o Brasil pagará cerca de US$ 20 bilhões em amortizações, o que sobra está longe de cobrir o buraco externo (déficit em conta corrente), estimado em US$ 35 bilhões.
A conta só fecha sem perda de reserva com a entrada prevista de US$ 14 bilhões de investimentos diretos, e outros US$ 11 bilhões em investimentos em portifólio (Bolsas). A privatização é decisiva: ela deve render mais de US$ 13 bilhões, dos quais uns US$ 7 bilhões podem vir do exterior.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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