São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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'Breakdown' coloca pânico na estrada

AUGUSTO MASSI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Breakdown" começa de forma sugestiva: linhas dançam na tela e vão se sobrepondo progressivamente até configurar o mapa rodoviário dos EUA.
Em meio à imensidão da paisagem, uma perua com placa de Massachusetts cruza uma estrada do oeste americano. Dentro dela viaja o casal Taylor, formado pela jornalista Amy (Kathleen Quinlan) e por seu marido, Jeff (Kurt Russel), que arrumou emprego em San Diego.
A aparente tranquilidade da viagem oculta a necessidade de recomeçar a vida no outro lado do país.
Inesperadamente, o carro quebra e somos precipitados no interior de um thriller eletrizante.
Reiteradamente, o filme confronta dois sentimentos básicos: uma coisa é contemplar a beleza épica da paisagem de dentro do carro, outra é estar à beira da estrada tomado pelo sentimento dramático de impotência: o que fazer?
O casal passa da pane tecnológica ao pânico psicológico, dos confortos oferecidos pela civilização à hostilidade árida da natureza.
Em boa hora aparece Red (J. T. Walsh), um simpático caminhoneiro que se dispõe a dar carona até o restaurante mais próximo onde poderiam solicitar um guincho. Jeff temendo abandonar o carro novo concorda que Amy pegue carona com Red.
Mal os dois partem, ele detecta o problema. Religados os fios soltos, Jeff retoma a estrada e vai ao encontro da mulher.
Daí para frente os problemas começam a se multiplicar: não há sinal de Amy ou de Red. Quando finalmente encontra o caminhoneiro, este afirma nunca o ter visto.
Jeff termina preenchendo um formulário de pessoas desaparecidas na delegacia local.
Mesclando com habilidade ingredientes dos filmes de perseguição, gênero inaugurado por "Encurralado", com o suspense psicológico de obras mais recentes como "O Silêncio do Lago", o diretor Jonathan Mostow mantém o espectador sob forte tensão.
Segundo ele, o objetivo era explorar o "sentimento universal de intranquilidade que as pessoas sentem quando estão no meio de lugar nenhum, longe de casa".
Mas qual seria o verdadeiro inimigo do casal? Num primeiro momento parece ser a natureza. Logo depois, algo nos é dito de modo subliminar: por que buscar aventuras? por que ficar longe do conforto das grande cidades? Paradoxalmente, aí parece residir o fascínio e o medo diante da idéia de desaparecer sem deixar nenhum vestígio.
Por fim, o vilão se apresenta. Ele está camuflado pela grande distância social que separa aqueles que vivem longe dos grandes centros.
Não são estrangeiros, estão à margem da sociedade americana. O diretor os coloca como representantes de um discurso ressentido contra os que vivem no centro, visível quando Red dá uma explicação para os crimes praticados.
Porém aflora em outras passagens, como no comentário que um dos bandidos, no posto de gasolina, emite sobre o carro de Jeff ou quando emitem juízos desvalorizando pessoas de Massachusetts.
Dentro do gênero, "Breakdowm" é formalmente bem feito.
Kurt Russel está perfeito no papel, incutindo ao seu personagem uma dose bastante equilibrada de vulnerabilidade e heroísmo de classe média. Mas há o eixo regressivo, conservador e central de sua argumentação.

Filme: Breakdown - Perseguição Implacável
Produção: EUA, 1997
Direção: Jonathan Mostow
Com: Kurt Russel, Kathleen Quinlan
Quando: a partir de hoje, nos cines Gemini 1, Olido 2 e circuito

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