São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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James Stewart

GREGORY SOLMAN
DO "INDEPENDENT ON SUNDAY"

Pode-se dizer sem dúvida alguma que James Stewart (1908-97) foi um dos maiores astros de cinema deste século.
Os diretores -além de outras amenidades- são o tema desta entrevista com James Stewart, talvez uma das últimas do ator concedida a um crítico de cinema.
Desde 1994, quando Gloria, com quem esteve casado por 45 anos, morreu, Stewart havia abandonado todas as atividades públicas e praticamente todas as particulares, em sinal de luto. No dia da entrevista parecia bem de saúde.
*
Pergunta - Quando o sr. estava cumprindo contrato, houve alguma vez em que se viu forçado a trabalhar com diretores com os quais não queria trabalhar?
James Stewart - Não fazia a menor diferença o fato de eu querer trabalhar ou não com um determinado diretor. Atualmente, um ator fica em casa lendo roteiros até que encontra um que lhe agrade.
Então liga para o seu agente e o processo começa. Mas naquela época trabalhávamos das 8 da manhã às 6 da tarde. Jornada completa, seis dias por semana. Fazíamos papéis pequenos em filmes importantes e grandes papéis em filmes sem importância.
Pergunta - Quando fala nessa época, está se referindo à década de 30?
Stewart - Cheguei a Hollywood em 1935, porque tinha um contrato de sete anos com a MGM. Fiquei lá até 1941 e depois passei quatro anos lutando na guerra. Meu contrato com a MGM expirou enquanto eu estava na guerra, mas eles me ofereceram um novo contrato. Leo Wasserman, meu agente, aconselhou-me a não assinar. Anos depois, ele me disse que, já naquela época, tinha certeza de que o sistema dos estúdios não conseguiria sobreviver.
Pergunta - Que não conseguiria sobreviver à guerra?
Stewart - Isso.
Pergunta - Então houve uma ruptura devido à sua participação na guerra. O sr. achava que ficar livre dos contratos era melhor? Havia diretores com os quais queria trabalhar e não pôde fazê-lo devido à obrigações contratuais?
Stewart - Foi exatamente o contrário. Tive a sorte de trabalhar com Capra, Ford e Preminger.
Pergunta - Dos diretores com quem trabalhou, quais trabalhavam da forma mais interessante?
Stewart - Bem, todos os diretores com quem trabalhei tinham o mesmo método de trabalho. Eles diziam aos atores o que eles queriam que acontecesse na tela e, ao mesmo tempo, deixavam que os atores descobrissem as coisas por eles mesmos.
Certa vez, filmava com Hitchcock uma cena longa, com muitos movimentos de câmera e cinco atores. Finalmente, Bob Burks (câmera com quem Hitchcock trabalhou na maior parte de sua carreira) disse: "A câmera está pronta". Hitchcock falou: "Tudo bem, atores no set" e perguntou: "Estão preparados? Então vamos rodar".
A coitada da garota que cuidava do roteiro foi falar com Hitchcock: "Por favor, sr. Hitchcock, preciso lhe mostrar uma coisa. Nesta passagem, Stewart só lembrou da metade de suas falas e, mesmo assim, essa metade está de trás para frente". Hitchcock respondeu: "Bem, então não há problema, a cena está pronta". Ele era assim.
Pergunta - Dá para fala dos bastidores de "Janela Indiscreta" ("Rear Window").
Stewart - Tudo estava indo bem. Todos nós éramos loucos por Grace Kelly. Todos ficávamos esperando que aparecesse de manhã, só para poder olhar para ela. Mas, na verdade, ninguém tinha feito um filme daquele tipo. Foi ótima aquela idéia de eu não sair da cadeira durante o filme todo, porque estava com o pé engessado.
Pergunta - Na sua opinião, qual foi seu melhor momento como ator? Houve alguma vez em que um diretor fez com que o sr. se sentisse totalmente à vontade?
Stewart - Capra fez com que eu me sentisse assim. Sentia isso quando ele falava que estava tudo bem, porque ele não era do tipo de desistir e de fazer as coisas de qualquer jeito.
Eu estava trabalhando com Frank Capra em "A Mulher Faz o Homem" ("Mr. Smith Goes to Washington"). Já estávamos há quatro dias fazendo uma cena e certamente iríamos precisar de mais um.
No fim do dia, lá pelas cinco da tarde, Frank disse: "Certo, chega por hoje" e, quando eu estava saindo, ele me chamou: "Você deveria estar perdendo a voz, mas os seus cochichos não parecem reais, eles soam assim (ele falou baixinho); é isso que você está fazendo, isso é algo que qualquer um pode fazer. Não é isso o que eu quero. Vamos continuar amanhã de manhã".
Eu fiquei preocupado. Por isso fui a um otorrino que eu conhecia e tive a sorte de encontrá-lo no consultório. Eu lhe perguntei: "Há alguma forma de você me deixar com a garganta inflamada?" Ele ficou admirado: "Nossa! Que coisa esquisita! Há 40 anos que faço todo o possível para que as pessoas não tenham dor de garganta e agora vem você e diz que quer ficar com a garganta inflamada. Já que insiste tanto, você vai ver o que é dor de garganta".
Ele pegou um vidrinho e disse: "Coloque a cabeça para trás". Pingou três gotinhas na minha garganta e me mandou engolir. Ele disse: "Bem, você queria ter dor de garganta, agora tem. Quanto tempo tem que durar isso?" Eu respondi: "Tenho mais um dia de trabalho, talvez precise falar assim durante quatro ou cinco horas".
Ele disse: "O efeito deve durar mais ou menos uma hora. Onde está filmando?" Eu respondi que nos estúdios Columbia e que começaria às 8 horas. No dia seguinte ele estava lá.
Pergunta - Alguns filmes, como "Um Corpo que Cai" e "A Felicidade Não se Compra" ("It's a Wonderful Life"), foram aclamados pela crítica. Há algum filme cujo sucesso tenha surpreendido o sr.?
Stewart - Acho que "The Stratton Story" teve mais sucesso do que eu pensei que teria.

Tradução Maria Carbajal.

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