São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os anões e a autoridade

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A primeira página de ontem desta Folha era o retrato acabado de um país posto de cabeça para baixo. Num canto, via-se o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Senado e do Congresso, dizendo que a autoridade presidencial fora "abalada" pela entrevista do ministro Sérgio Motta.
É uma maneira de ver as coisas, embora tosca.
No mesmo canto de página, a autoridade presidencial estava restaurada pelos mesmos que a consideravam abalada. Só porque o presidente despejou uma torrente de obviedades e espargiu afagos por toda a sua turma, bons meninos, bem comportados, bons alunos, com a lição de casa bem feita.
É outra maneira de ver as coisas, agora não mais tosca, mas cínica.
O presidente não viu abalo algum. Nem podia ver. Afinal, ele próprio disse que "há certas questões que são do âmbito privado, que não são questões que devem ser debatidas em público".
Traduzo: o que Sérgio Motta disse pode até ser verdade, mas as verdades não devem ser ditas de público, ao menos nesse mundo político rastaquera.
É outra maneira de ver as coisas.
Por fim, nas fotos da mesma primeira página, a autoridade, aí sim, estava sendo pisoteada. Seja pela PM pernambucana, em greve inconstitucional, seja pelos policiais gaúchos, invadindo a Assembléia, subindo às mesas.
Mas os "grandes" da República não estão nem aí para o verdadeiro desafio à autoridade posto pelo caos no aparelho de segurança. Nem ligam para o fato de que a fatia mais miserável da população paga o preço da insegurança gerada pela greve dos policiais.
Pedaços inteiros de Alagoas e Pernambuco viraram terra de ninguém, onde a autoridade simplesmente se evaporou, mas os figurões da República estão preocupados apenas com eles próprios, como sempre estiveram, aliás.
Preferem as pequenas intrigas. É compreensível: cada um age no limite de sua própria dimensão.

Texto Anterior: AVANÇO NO JUDICIÁRIO
Próximo Texto: Dedo no gatilho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.