São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dedo no gatilho

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Depois de uma solenidade, ontem, no aconchego do Planalto, o senador Antonio Carlos Magalhães disse que ficou satisfeito com a entrevista do presidente sobre Serjão, Luís Eduardo e PMDB.
"O céu está de brigadeiro, e o mar, de almirante", declarou ACM, decretando o fim da crise.
Ele só se esqueceu da terceira ponta das Forças Armadas: o chão, chão, terra, terra do general-de-exército. É aí, no país real, que está pegando fogo.
A semana passou e, com ela, a chance de os nobres deputados e senadores influírem no que de fato interessa neste momento: a ameaça à ordem pública em várias capitais do país.
Na terça-feira, policiais de diferentes patentes e Estados -inclusive Alagoas- foram convidados a ocupar o plenário da Câmara, durante três horas, para discutir segurança pública.
No mesmo dia, foi votada em primeira instância uma emenda constitucional que transforma os militares em servidores do Estado. Objetivo: permitir que eles tenham aumentos salariais distintos dos que são dados (aliás, dos que não estão sendo dados) aos civis.
Os parlamentares não deram bola para uma coisa nem outra. E eles só voltam a partir de 4 de agosto.
O que temos agora é um soldado do Exército mortalmente atingido, não num campo de batalha, mas trocando tiros com bandidos no lugar da polícia. Imagine-se o ânimo dos soldados depois que o colega pagou o pato da greve da PM. Eles, que foram treinados para matar e morrer, andam pelas ruas com o dedo no gatilho.
A responsabilidade é dos governos estaduais, o de Minas em especial, que não atuaram preventivamente; do governo federal, que desprezou os sinais de que a coisa estava ficando preta; e também dos políticos, que ficam nadando em torno do Serjão em vez de mergulhar em questão tão grave.
O impasse está criado. Como disse ontem o governador do DF, Cristovam Buarque, "com categoria armada não se negocia. Ou ela se rende ou você se rende a ela".
Uma forma de se render é fingir que não há crise. Crise? Que crise?

Texto Anterior: Os anões e a autoridade
Próximo Texto: Polícia demais
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.