São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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Protesto reúne metade do público esperado e vira comício pró-Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
CLÁUDIA TREVISAN

CARLOS EDUARDO ALVES; CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Líder petista faz discurso de candidato; Polícia Militar calcula participantes em 7.000

A manifestação "Abra o Olho, Brasil" em São Paulo -que em seu ápice reuniu 7.000 pessoas, segundo a Polícia Militar- transformou-se em comício de lançamento da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República pela terceira vez.
O protesto reuniu metade do número de participantes esperado pelos organizadores -MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e outros movimentos sociais.
O tom do comício em tudo lembrou os discursos adotados pela esquerda nas últimas campanhas eleitorais. A festa para Lula foi preparada por José Rainha Júnior, líder dos sem-terra.
"Lula é a esperança. Em 98, temos de ir para a rua e o MST vai fazer campanha", afirmou Rainha no encerramento de seu discurso. Foi a senha para que se ressuscitasse o lema das últimas campanhas presidenciais de Lula: "Brasil urgente, Lula presidente".
Satisfeito com a adesão da platéia, Lula não negou um discurso de candidato. "Fernando Henrique já tirou Maluf pela direita e tentou tirar o PT com acusações. Mas conosco não vai conseguir."
Na avaliação de Lula, o caso Cpem -denúncia de favorecimento de prefeituras petistas ao advogado Roberto Teixeira, compadre do líder do PT- foi articulado pelo Palácio do Planalto.
Aplaudido, Lula disse: "Em 98, vamos derrotar o neoliberalismo e eleger um governo comprometido com a classe trabalhadora".
Na sequência, o público entoou velhos slogans eleitorais de Lula. O tom de campanha também foi adotado por quase todos os oradores que apelavam para a unidade da esquerda em 98. O presidente nacional do PT, José Dirceu, encerrou sua fala com um "viva a unidade da esquerda".
A manifestação política, iniciada às 17h50, encerrou-se às 19h45. O auge do movimento ocorreu às 18h25, segundo a PM.
A manifestação era composta por pessoas que saíram em marcha de várias regiões do Estado. Eles protestavam contra o governo FHC e pediam a realização de reforma agrária, entre outras reivindicações.
Na sua chegada à avenida Paulista, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "FHC precisa passar cotonete para tirar a cera do ouvido e escutar o que povo quer". Lula disse ainda que o país está entrando "num processo sério com os problemas sociais se agravando".
Lula afirma que no segundo semestre outros protestos serão realizados contra a política do governo FHC. No dia 7 de setembro, pastorais da Igreja Católica e organizações sindicais realizarão o "Grito dos Excluídos", pedindo reforma agrária e mais empregos.
No dia 16, serão organizadas caravanas de apoio a José Rainha Júnior, que será novamente julgado por homicídio no Espírito Santo. No carro de som que serviu de palanque para o ato, houve apresentação de grupos musicais e "entrevistas" com pessoas comuns que estavam na Paulista.
Às 17h50, começaram os discursos, com o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Ricardo Capelli.
A segurança na avenida Paulista foi feita por 550 PMs, integrantes da tropa de choque, do comando de trânsito e do policiamento metropolitano. O policiamento contou ainda com helicópteros que sobrevoavam a região. Um deles, da PM, fez pelo menos três vôos rasantes sobre a avenida.
O ato de ontem mobilizou cerca de 6.000 PMs, 131 carros, 36 motos e 328 cavalos. O coronel Carlos Alberto de Camargo, comandante do policiamento de choque e responsável pela operação, disse que não se registraram incidentes.
A estimativa sobre o número de participantes no protesto foi feita pelo capitão Merlo, que está na PM há 16 anos e há nove faz policiamento de multidões, fazendo cálculo do número de pessoas.

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