São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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Recuo da Aids é menor para mulher

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do efeito ressuscitador do "coquetel" de drogas anti-Aids, a mortalidade de doentes mulheres não está caindo como o esperado na cidade de São Paulo. A queda nas mortes de doentes homens também está diminuindo.
Levantamento do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade) da Prefeitura de São Paulo mostra que a redução no número de mortes de portadores do HIV do sexo masculino foi cinco vezes maior do que a das mulheres no segundo trimestre deste ano.
Nesse período morreram 156 mulheres, 8,8% menos do que no 2º trimestre do ano passado. A redução de mortes no caso dos homens foi de 35,6% em relação ao ano passado, a mesma diminuição registrada no 1º trimestre do ano.
Se comparada com a redução das mortes no 1º trimestre deste ano, os 8,8% das mulheres revelam ainda mais a aceleração da epidemia entre o sexo feminino. De janeiro a março deste ano, a queda da mortalidade das mulheres com Aids havia sido de 18,8%.
"Esses números mostram que existe uma dinâmica diferente entre homens e mulheres. Para homens, a doença já atingiu seu pico e está decrescente. Nas mulheres, existe um efeito contrário: está em crescimento acelerado", diz Artur Kalichman, coordenador do DST-Aids (o departamento de doenças infecto-contagiosas da Secretaria da Saúde).
E acrescenta: "A elevação da doença nas mulheres é tão grande que mesmo os efeitos do coquetel não são tão grandes".
O coquetel está sendo distribuído pelo governo do Estado desde novembro do ano passado. O efeito das drogas, segundo os médicos, é exatamente o mesmo para os dois sexos: elas podem reduzir até níveis indetectáveis a quantidade do vírus no organismo e, com isso, aumentar a expectativa de vida do doente.
O que estaria dando essa diferença na mortalidade é a velocidade com que o vírus atinge as mulheres. Dados da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo mostram que o número de homens infectados está caindo, e o de mulheres, subindo. No ano passado (os números ainda não estão fechados) foram contaminados 5.203 homens e 1.972 mulheres.
Segundo Kalichman, o que mais preocupa é a contaminação fora dos grupos de riscos. "Essa aceleração entre as mulheres ocorre exatamente entre aquelas que são heterossexuais e têm um relacionamento fixo. O problema é que elas não estão preocupadas com a doença e acabam chegando aos serviços de saúde mais tarde", diz.
O infectologista Vicente Amato Neto concorda e afirma que o grande vilão hoje é o bissexual que não assume. "Muitas mulheres são contaminadas por seus maridos e não desconfiam porque, muitas vezes, eles são homens que mantêm relacionamentos secretos com outros homens e geralmente com comportamento de risco."

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