São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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Médicos pedem maior rigor contra infecções

NOELLY RUSSO
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

Uma moção discutida por 450 profissionais da área de controle de infecção hospitalar definiu ontem padrões nacionais para o controle de infecções hospitalares. O documento foi elaborado durante a 1ª Oficina Brasileira de Controle de Infecção Hospitalar.
Os profissionais pedem a regulamentação da lei 9.431, de 6 de janeiro passado, que obriga hospitais a manter um Programa de Controle de Infecção Hospitalar.
Entre as principais definições estão: adotar mais medidas preventivas para infecções respiratórias e da corrente sanguínea, que vão desde a assistência ao paciente até a padronização de procedimentos técnicos.
As infecções respiratórias estão entre os três tipos mais comuns, mas é a que mais mata. As de corrente sanguínea também são comuns, mas menos letais.
Foram definidos critérios para a reutilização de material descartável. Isso ocorre porque muitos hospitais não têm condições de repor material por falta de verbas. Também foram determinados quais materiais podem ser reprocessados, como tipos de catéteres.
Segundo Joane Maria de Queiroz Félix, coordenadora do evento, a principal conquista da Oficina foi a de ter conseguido realizar um encontro multidisciplinar. "Um documento consensual sobre a infecção hospitalar é inédito no país."
Levantamento realizado no ano passado pelo Ministério da Saúde apontou a região Sudeste como a que registra as maiores taxas de infecção hospitalar. A mesma pesquisa mostrou que só 30% dos hospitais brasileiros mantém controle de infecção hospitalar.
Quando a lei 9.431 foi sancionada, o presidente da República vetou toda a regulamentação já existente. Uma subcomissão foi criada no Congresso para reorganizar as normas contra infecção. A moção vai dar suporte aos parlamentares.
Entre os principais problemas está o mau uso de antibióticos pelos médicos -que usam o medicamento inadequado nos pacientes- e pela população, que se automedica. O antibiótico, se mal utilizado, "vacina" a bactéria.
O microorganismo se torna mais resistente e não responde aos medicamentos. Quando esse quadro se instala, os médicos se deparam com uma bactéria multirresistente, difícil de ser tratada.
Para o infectologista Edwal Campos Rodrigues, o uso de antibióticos deveria ser encarado como uma subespecialidade. "É difícil falar para outro médico que ele está usando um canhão para matar uma formiguinha. Mas é um cuidado que precisa ser adotado se quisermos diminuir o risco de infecção hospitalar."
"Se mostramos às bactérias nossas principais armas, entregamos a guerra de mão beijada", explica.

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