São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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Livro retrata trajetória kafkiana da CST

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante quase dez anos, desde o início das suas operações até sua privatização, em 1992, a CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão) enfrentou problemas administrativos que parecem saídos de um livro de Kafka para quem está acostumado só com o setor privado.
Um exemplo: todas as viagens para fora do país de qualquer um dos 6.000 funcionários que a empresa tinha até 1991 precisavam contar com a autorização direta -e prévia- do gabinete da Presidência da República.
Imaginem-se quantas oportunidades de negócios, de treinamento, de participação em congressos foram perdidas e quantas horas de trabalho e quanto esforço devem ter sido gastos cada vez que se planejou uma viagem internacional.
Esse é apenas um detalhe, mas ilustra com clareza como um emaranhado de normas e leis, criadas para evitar abusos e fraudes no setor público, tornou extremamente difícil administrar estatais, mesmo de setores como o siderúrgico, em que a essência do negócio não exige muita agilidade -a maioria dos contratos, nessa área, é de longo prazo.
Endividamento
Esses problemas surgiram antes mesmo de a CST começar a operar: a própria decisão de criar a empresa foi tomada mais por razões políticas do que econômico-financeiras e houve uma demora de dez anos para sua implantação, período em que o projeto inicial foi mudado várias vezes.
Nesse período de dez anos (entre 1973 e 1983), foram alteradas a composição acionária da empresa e a política de financiamento dos investimentos, além do próprio modelo de usina siderúrgica.
Como consequência, quando a CST começou a operar tinha um índice de endividamento muito alto e, para se viabilizar, teria que ser extremamente competitiva.
Não é de surpreender, nesse contexto, que os controladores da CST depois da sua privatização tenham conseguido num prazo relativamente curto bons resultados em termos de redução de custos, estoques, acidentes de trabalho etc.
Mulheres na siderurgia
A trajetória da companhia, uma das maiores siderúrgicas do país, está retratada no livro "Na Mão da História: A CST na Siderurgia Mundial", uma tese de doutorado em economia industrial com uma abordagem pouco usual no meio acadêmico brasileiro, por ser um estudo de caso de uma empresa.
O livro também se destaca por ter sido escrito por uma mulher -o número de economistas mulheres especializadas no setor industrial é bastante pequeno, ainda. Angela Morandi é professora-adjunta do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo e fez seu doutorado na Unicamp.
O seu não é um livro para qualquer leitor, embora Morandi escreva de forma clara, sem exagerar no uso de termos técnicos, tão comuns na economia e mais ainda em uma área tão específica quanto a siderurgia.
O livro deve, porém, atrair não apenas quem se interessa pelo setor industrial, mas também pelo papel do Estado na economia.
Publicado pela editora da universidade onde Morandi trabalha, o maior defeito do livro é não ter um índice remissivo.

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