São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997 |
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Brinquedo louco e assassino
RODOLFO LUCENA
Enquanto no primeiro os personagens entram na ação, aparecem vivos, agentes ou vítimas, aqui eles são apresentados. Tudo calmamente, tão sem sal como a pacata cidadezinha de Ohio onde se passa a tragédia. A lentidão é reforçada pela própria estrutura do texto. A obra é mais intrincada, mistura narrativa com textos de diário, cartas, recortes de jornais. Essas partes aos poucos vão montando o cenário de terror. Mas o leitor não é carregado pela história; quando se concentra, respira fundo e vai em frente, o ritmo é cortado. Quanto à trama, só lá no final da página 22 é que aparecem indícios de que nem tudo é pasmaceira. Na 23, enfim, um entregador de jornais vê algo "arrepiante". A partir daí, há um crescendo -há mais ação e uma certa inquietude. Logo, Cary Ripton está jogando mais um jornal na varanda de mais outra casa, "sorrindo, ignorando que vai morrer virgem e reserva de zagueiro". Os demônios são personagens saídos de desenhos animados e séries de TV, que ganham vida a mando de Tak, o mesmo ente do mal de "Desespero". O cavalo de Tak é um menino autista, órfão -toda sua família foi morta em um acidente provocado pela criatura. E as vítimas são pacatos moradores da rua dos Álamos. Tem morte que não acaba mais nessa ruazinha. Quando se encaminha para o desenlace, a história ganha velocidade, movimento -os capítulos ficam mais curtos, os pontos de vista mudam mais rapidamente. Mas o final leva jeito de obra aberta, inacabada. Enfim, o ritmo de Bachman já foi melhor. Sob esse pseudônimo, King escreveu, por exemplo, "Thinner". O autor havia "matado" Richard Bachman (câncer, 1985) e garante que não ressuscitou o parceiro. O manuscrito de "Os Justiceiros" foi encontrado pela viúva, durante uma faxina no sótão, em uma caixa com outros, ainda mais incompletos -o que pode prenunciar mais uma leva de obras de Bachman. (RL) Livro: Os Justiceiros Autor: Richard Bachman Preço: R$ 24 Lançamento: Objetiva Texto Anterior: Stephen King deforma fantasias infantis Próximo Texto: Cozido de religião e morte Índice |
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