São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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WOODSTOCK POLÍTICO

O "Abra o Olho, Brasil", conjunto de manifestações realizadas ontem em diversas cidades, acabou sendo uma espécie de Woodstock dos descontentes, uma conjugação de oportunistas e rebeldes com ou sem causas, mas nenhum rumo.
Tantas eram as reivindicações paralelas, dos caminhoneiros aos homossexuais, dos petroleiros aos sem-terra, que fica difícil entender, em meio ao esquerdismo difuso, o eixo dos protestos.
Como o movimento aproveitou-se da onda de ameaças de paralisação, greves e até mesmo motins das polícias, a confusão foi ainda maior.
Um balanço do movimento, necessariamente preliminar, exige separar as diferentes situações. Em São Paulo, é alentador verificar que a Polícia Civil não participou da mobilização e rejeitou a proposta de greve.
Prova do acerto da política seguida pelo governador Mário Covas, exatamente a inversa de seu colega mineiro, Eduardo Azeredo. Covas antecipou-se ao movimento grevista, com uma proposta de aumento que considerou inegociável se houvesse greve. Não é certamente a proposta ideal, mas a possível -e acabou acatada.
É igualmente alentador verificar que não ocorreram incidentes sérios -afora as complicações no trânsito em São Paulo- até o fechamento desta edição.
De todo modo, os protestos em vários Estados, apesar da confusão de propostas, deixam duas mensagens claras. A primeira, para o governo: de maio de 95 a julho de 97, houve sete atos públicos de alguma ou muita importância. É a evidência de que há demandas sociais insatisfeitas.
O fato de a manifestação de ontem ter sido a maior de todas indica que a insatisfação está crescendo, o que coincide com o esgotamento do efeito redistributivo do Plano Real.
Para a oposição, há também uma mensagem nítida: gritar "de Fernando em Fernando, o país vai afundando", como ocorreu ontem, pode até soar engraçado, mas é insuficiente e leviano. Enquanto as oposições não apresentarem alternativas concretas, o grito permanecerá estéril.

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